Entre as principais cidades europeias que, ainda, dispensam as catracas de acesso aos serviços de transporte (metrô, ônibus urbano, tranvia/VLT ou bonde) está a capital austríaca. E, pois, em Viena também se fala que a confiança nas pessoas deixa apenas a indicação de que, caso algum eventual usuário (desavisado ou de má fé) seja surpreendido pelo serviço de fiscalização e não comprove o devido pagamento para circular no metrô, recebe multa, além de uma previsível orientação educativa (por vezes, vista como ‘palestrinha’) do fiscal.
Mas, o profissional da fiscalização de transporte em Viena é bem menos misterioso que o ‘fiscal de Berlim’, que é conhecido por não se identificar, andar sem uniforme, circular aleatoriamente e portar apenas uma pequena máquina de verificação portátil (como se fosse uma operadora de cartão). O fiscal do metrô em Viena parece bem mais previsível. Eles andam em dupla, devidamente uniformizados e, claro, também levam a máquina de verificação da passagem (ou cartão, usado pelos moradores locais) mas, sem o clima de mistério registrado no metrô da capital alemã, o trabalho parece perder o encanto da ficção e relatos da história oral.
Em sites e redes sociais com informação turística aos brasileiros, seja por coincidências ou registros experienciais, o alerta é muito parecido: “se um fiscal te abordar e não tiveres comprado ou validado o ticket antes de entrar no metrô, prepare-se, pois a multa é 100 euros”, lembram os guias em vários endereços e posts na internet.
E, sim, além de comprar o ticket (geralmente, em máquinas nos principais acessos), é preciso validar, antes de entrar no metrô (U-Bahn). Ao circular na cidade, é fácil identificar os pontos das cinco linhas do metro pelo painel com U (em placa grande de fundo azul e letra branca).
O serviço é funcional e eficiente, apesar do custo comparativo elevado aos padrões brasileiros. O ticket custa 2,4 euros (cerca de 13,00 em Janeiro/23), mas permite troca de trem, dentro do sistema, desde que o destino seja na mesma direção (sem volta) e não tem validade por tempo de uso, como acontece em algumas cidades. Mas os preços variam, de meia passagem para crianças (a partir de 6 anos), estudantes e animais domésticos (que também devem pagar a meia pelo serviço), além de custo reduzido para idosos ou do vale integrado para turistas, que podem circular nos diversos modais com validade de 24h ou até 72h, bem como a oferta de tickets mensal ou anual para moradores/temporários, que também reduzem o custo de acesso ao serviço.
Com um sistema aberto assim, é possível que você imagine que as estações e trens estejam forradas de câmeras de vigilância. Nada disso! Existem câmeras, sim, mas em bem menor quantidade que se constata em qualquer sistema de transporte de cidades brasileiras. E nem é preciso suspeitar de insegurança alguma, pois os ambientes e espaços públicos em qualquer bairro de Viena registram uma tranquilidade de invejar as condições de segurança conhecidas em cidades interioranas do Brasil.
Viena é, sim, uma das ‘cidades globais’ em que se pode circular, com calma, para curtir tudo o que uma das duas capitais do antigo império austro-húngaro (entre 1867 e 1918) oferece aos moradores e turistas. Agora, sim, vai com calma, pois o custo de vida em Viena é um pouco acima da média registrada nas grandes cidades da Europa. Mas isso não tem nada a ver com o Fiscal de Viena, e sim com a zona do Euro, que precisa ser considerado em qualquer giro por lá.
Enfim, talvez pela eficácia e funcionalidade do sistema, ou mesmo pela compreensão da importância do transporte coletivo, o fiscal de Viena não registra a mesma aura de mistério que marca a trajetória dos profissionais de monitoramento e fiscalização do metrô em outras cidades do mundo. Agora, claro, não resta dúvida de que o fiscal de Viena existe, sim. Mas, pela pouca frequência nas estações e trens, fica difícil avaliar comportamento, cordialidade ou hábitos de trabalho.
Sérgio Gadini, trabalhador do serviço público, que consegue viajar apenas nas férias anuais de 30 dias, às próprias custas e com planos que envolvem gestão financeira de longas (nem sempre suaves) prestações. E-mail: slgadini@uepg.br