Por Sérgio Gadini
Diante do falecimento do ex-vereador Pascoal Adura, ocorrido ontem (08), o Cultura Plural relembra sua atuação em defesa da saúde pública em um perfil produzido pelo professor Sérgio Luiz Gadini. Publicado originalmente no Diário dos Campos em 2011, o texto rememora a trajetória do médico e político em Ponta Grossa.
* Sérgio Luiz Gadini
Quem acompanha o cenário político de Ponta Grossa/PR deve ter muitos questionamentos, dúvidas e até angústias. Mas, a disputa política é feita, assim, por pessoas, que precisam ser provocadas ou desafiadas. E, eventualmente, também elogiadas. Com todo risco que uma expressão do gênero pode representar.
O vereador Pascoal Adura (PMDB) é uma figura polêmica. Algumas vezes, de forma contraditória. Mas, uma coisa não se pode negar: o parlamentar leva suas posições até o fim, independentemente do preço das apostas. Não por acaso, Pascoal já votou sozinho em diversas situações na Câmara Municipal de Ponta Grossa. E isso é fundamental em política, porque rompe com qualquer suposto consenso. E, o mais importante, as diversas manifestações do vereador não se limitam a um setor ou problema social da Cidade. Até porque, em um município com tantos problemas sociais, nem daria para ficar restrito a um ou outro tema!
Mas as falas do vereador peemedebista, ao longo do atual mandato legislativo, tem se destacado pelo questionamento frequente de uma situação que, diariamente, afeta a vida de milhares de contribuintes de PG: a saúde pública!
Concorde-se ou não, o fato é que saúde pública em PG, apesar de promessas eleitoreiras, é hoje um dos “gargalos” da (má) administração da cidade, embora não exclusivo da atual gestão municipal, que obriga pessoas que residem em diferentes bairros a enfrentar situações imprevisíveis e dificuldades inexplicadas para conseguir atendimento médico.
Aqui é preciso situar que o comportamento hegemônico do legislativo local avançou em vários aspectos, nestes últimos dois anos (busca de transparência, maior controle de verbas, dentre outros aspectos), mas deixa muito a desejar em seu papel de fiscalizar o poder executivo. E, aí, talvez o atual “descaso” com a gestão da saúde também seja consequência de uma opção hegemônica que marca a atual gestão legislativa local.
Enquanto isso, os problemas se acumularam em saúde. E, pior, vão aumentando! A promessa, lá de 2004, de que a Cidade iria “acabar com as filas” virou lenda… talvez, tanto quanto a promessa os usuários poderiam agendar atendimento por telefone. Quem enfrenta problema de doença (ausência de saúde) não pode esperar, quanto mais em casa, muitas vezes sem condições de se deslocar! O que, pode-se supor, se as “filas acabaram” foi, muito possivelmente, por outros motivos. E, pelo visto, piorou mesmo!
Neste tempo, o vereador Pascoal Adura não silenciou! Em vários momentos, por conhecer mais de perto a situação da área, como profissional, fez inúmeros questionamentos públicos. Mesmo quando a mídia local parece não encontrar “gancho jornalístico” para pautar problemas concretos da falta de saúde no município, Pascoal foi (e vai) à tribuna da Câmara cobrar atenção da atual administração com o setor. Em certos casos, deixa a impressão de uma voz ‘isolada’, diante da contingência previsível pelo silêncio da maioria. Mas, o vereador não silencia!
Ao ponto que, neste momento, quem sabe pela insistência do médico Pascoal, a existência crescente da doença em PG não está completamente silenciada. Lógico que, para muitos contribuintes que, direta ou indiretamente, não concordam com a suposta hegemonia de que a saúde estaria bem, Pascoal se tornou porta-voz dos excluídos. Dos não atendidos, dos milhares de ‘sem saúde’ que a maior cidade dos Campos Ge(ne)rais do Paraná registra.
Se a Câmara Municipal de PG tiver, na próxima legislativa, outros vereadores que discordem e questionem abertamente a gravidade do problema da saúde na Cidade, é possível que mais setores ampliem o eco dos descontentes… que não é pequeno. Embora, ainda, falte porta-voz, representantes e atores que apostem na busca concreta de soluções. E isso é possível, até porque existem recursos públicos. O grande diferencial, se comparado com outras cidades do mesmo porte e tamanho, talvez esteja mesmo na gestão do serviço. Por isso mesmo, pode-se dizer, neste momento, que o vereador e médico Pascoal Adura não é uma voz isolada, questiona a ausência de respeito a um direito universal à vida humana em Ponta Grossa: existem, certamente, milhares de contribuintes que entendem bem as manifestações do vereador, embora algumas vezes parece falar para o eco e o registro do plenário pouco polêmico.
* O autor é professor e usuário dos serviços públicos em PG, no Paraná e no Brasil (sergiogadini@yahoo.com.br)
Texto publicado originalmente no Diário dos Campos em 2011.