Por Sérgio Gadini
“Duas questões: uma pergunta e um comentário”. Assim o Hélcio Kolaveski começava as análises das apresentações no Festival de Teatro, nos diálogos com os grupos, ao final das peças.
Desde 1996, ao conhecer o Fenata, a participação ativa do Hélcio (Sr HK) em um dos momentos marcantes de cada edição do festival – as conversas com o público, depois das apresentações – criou uma das marcas do evento, que via de regra caracteriza festivais culturais, mas especialmente em teatro e música, Brasil e mundo agora.
No Fenata, ainda nos tempos do Grande auditório, no campus central UEPG, HK exercitava a crítica de teatro em PG.
A pergunta que geralmente ficava para o final de fala tinha um caráter quase performático, em certo sentido para dizer que perguntou algo aos membros do grupo. E era no alongado comentário que Hélcio trazia referência a textos clássicos da história cênica, avaliava o uso do palco pela presença de atores/atrizes, discutia roteiro (adaptado ou original), falava da trilha, qualidade do som no espetáculo, os efeitos de luz, a ‘mão’ invisível da direção artística, a atualidade ou não do tema e, enfim, quem tinha paciência e disposição para ouvir a pergunta e o comentário do HK saia do teatro com uma aula gratuita de encenação artística.
Generoso ou solidário na análise, HK conseguia ver qualidades mesmo em apresentações que pouco inspiravam o público. Sempre motivado ao exercício da crítica, Hélcio evitava perder peças ao longo do festival. Era um tempo em que o evento também fazia jus às décadas de história do teatro nos Campos Generais do Paraná.
Pesquisador cuidadoso das artes cênicas, HK esquecia trabalho e eventuais problemas cotidianos para se envolver por inteiro durantes os festivais: via, atento, o maior número de peças possíveis em cada edição. Nem problemas de mobilidade, conhecidos pela maioria de moradores de PG, limitavam a dedicação ao teatro. Pedidos aleatórios de carona ao fim do último diálogo, depois da última apresentação da noite, eram recorrentes aos colegas que frequentavam o Fenata.
E foi assim, por décadas, que HK viveu quase tudo que um festival artístico pode oferecer aos amantes do teatro. Emotivo, criativo e insistente nos circuitos cênicos que deixavam a Cidade animada e teatral durante o Fenata. Em junho de 2023, o coração do velho crítico cansou e abandonou o corpo do escritor, antes mesmo da edição anual que novembro daquele ano anunciava.
Difícil ou muito difícil, nos diálogos pós-apresentações de teatro, não lembrar do Hélcio Kolaveski, que faz falta, pois se tornou personagem onipresente ao longo de décadas do Festival de Teatro em PG. Sr HK, presente, mas faltou a pergunta e o comentário na conversa da noite.
* O autor é professor de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.