Alguns tipos de filme aparecem todo ano na grande lista de indicados ao Oscar. São aqueles filmes que se tornam influentes por conta da simplicidade, do ato de fazer cinema com pouco e de encantar o público com personagens carismáticos e reais. ‘Os Rejeitados’ parece cumprir essa cota com muito êxito, e se tornou o favorito de boa parte do público.
O filme é dirigido por Alexander Payne e traz um elenco completamente encantador. Três atores – Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa – dominam a tela em quase todos os momentos do longa. No filme, um professor de um internato precisa passar as férias de Natal com um aluno e uma cozinheira dentro do internato. A premissa é simples e o longa não busca acrescentar mais profundidade aos acontecimentos, já que toda a beleza da narrativa está escondida nos diálogos e na relação humana.
‘Os Rejeitados’ se passa nos anos 1970, na Nova Inglaterra, e consegue trazer naturalidade para uma época que já foi utilizada inúmeras vezes no cinema de maneira caricata. O filme se destaca ao demonstrar a década em que a história se passa sem a necessidade de muitas referências à cultura pop, roupas exageradamente características e penteados que parecem ter saído de uma festa vintage. Assim como sua narrativa, o figurino, a maquiagem e os cenários são suficientes para pertencer aos anos 1970, sem forçar o público a relembrar esse fato a cada cena.
Talvez pareça pouco definir o filme com uma palavra tão simples quanto adorável, mas essa é a expressão correta para descrever o que vemos em cena. Os atores possuem uma química indiscutível, o que agrega ainda mais valor ao filme, considerando o fato de que todos trabalharam juntos pela primeira vez. Porém, Paul Giamatti e Alexander Payne já possuem trabalhos anteriores juntos, o que talvez explique o motivo pelo qual o ator parece estar ainda mais confortável na tela do que seus companheiros.
O destaque vai para Da’Vine Joy Randolph, que ilumina o filme com a sabedoria de uma atriz que reconhece tudo o que sua personagem representa para a história. Sua indicação ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante é justificada, mas talvez seria melhor tratar da indicação com seu nome original – Best Supporting Actress -, já que a atriz age como um suporte para toda a narrativa, como uma figura materna que guia e auxilia as outras personagens, sem minimizar suas próprias dores e sua própria história. Não tem como não torcer para que ela leve a estatueta.
Outro destaque está no roteiro de David Hemingson. Com uma premissa tão simples, parece difícil conseguir convencer o público a assistir o filme por toda a sua duração, mas Hemingson faz isso com maestria ao dar características notáveis para seus personagens. Com poucos cenários, ficamos sabendo sobre os tópicos que guiam as ações de todas as pessoas envolvidas. Nessas férias de Natal, as personagens são forçadas a relembrar temas difíceis, como o luto, a negligência parental e a solidão.
Mesmo com essas características que fazem com que o público se conecte com o que está assistindo, o roteiro também não tem medo de dar às personagens características que parecem não ser tão atrativas assim. Desde personagens que possuem um cheiro forte de peixe até personagens que parecem demonstrar comportamentos rudes puramente por conta de traumas do passado, a construção da narrativa vai se fortalecendo cada vez mais.
A conclusão sobre ‘Os Rejeitados’ é simples e direta: é um filme doce. Talvez doce demais para conseguir concorrer com outros da temporada, que impressionam a plateia por elementos muito mais fortes, como narrativas que tratam de temas sensíveis ou que tentam chocar o público por meio da violência ou de representações gráficas. Porém, nem só de força se constitui o cinema. Nem tudo precisa ser gráfico e violento para impressionar, e, muitas vezes, há muito mais mérito em conseguir entregar um filme que comove ao invés de chocar.