Por Cultura Plural
A Agência de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa fez o lançamento de estreia no sábado, 8/7, do documentário “Doze meses de resistência: a terra como horizonte de vida”, que retrata um ano de ocupação do Acampamento Maria Rosa do Contestado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O lançamento ocorreu no próprio Acampamento, durante a Festa Junina da comunidade Maria Rosa do Contestado. O documentário de 46 minutos é resultado do trabalho da Agência de Jornalismo, Programa de Extensão do Curso de Jornalismo da UEPG, que mantém a parceria com várias entidades, grupos e movimentos sociais populares, entre elas as comunidades do MST na região, em ações diversas de comunicação e jornalismo.
Com produção e edição pelo estudante de Jornalismo, Gabriel Ferreira Clarindo Neto, e orientação da professora e coordenadora da Agência de Jornalismo, Hebe Gonçalves, o trabalho foi iniciado em maio do ano passado, com a apresentação de uma prévia à comunidade em 24 de agosto, no aniversário de um ano do Acampamento Maria Rosa do Contestado.
O documentário constitui-se do relato de camponeses e camponesas sobre o dia da ocupação do Maria Rosa, o cotidiano, a luta pela terra, as conquistas, como a geração de trabalho e renda e o cultivo de alimentos a partir da agroecologia como horizonte de vida. “Tentamos registrar, a partir do depoimento dos acampados, o sentido e importância da luta pela terra e as mudanças em suas vidas em um ano de ocupação através do MST”, disse a professora Hebe. “Produzir o documentário foi uma experiência muito rica, um aprendizado. Um trabalho que fiz com muito amor”, disse Gabriel Clarindo durante o lançamento. Para uso da música “Canção da Terra” como trilha sonora do documentário, Agência de Jornalismo obteve autorização gratuita do próprio cantor e compositor gaúcho Pedro Munhoz e da Som Livre 100% Edições Musicais.
Para o integrante do MST Joabe Mendes de Oliveira, o videodocumentário possibilita mostrar o projeto do movimento voltado à agricultura orgânica no País: “O vídeo é um meio de expor o projeto que, de fato, a gente está construindo. Através do Acampamento Maria Rosa, a gente quer que todos os acampamentos do Estado do Paraná se transformem numa grande matriz tecnológica agroecológica, de produção orgânica, para fazermos o contraponto a esse modelo colocado aí. O projeto de monocultivo implantado no País hoje não viabiliza a pequena propriedade, não gera renda, não gera emprego, destrói a biodiversidade, acaba com os recursos naturais, acaba com a matéria-prima de nosso País, expulsa camponeses e camponesas de suas terras – os índios, quilombolas e comunidades tradicionais – com único objetivo de acumular lucro e capital para sustentar os países da Europa, que possuem um alto padrão de consumo muito mais elevado que os países da América Latina”. Joabe de Oliveira destacou ainda: “Estamos fazendo o contraponto, dizendo que queremos usar essas terras para produzir comida saudável e barata, direto para mesa do consumidor. Através desse vídeo, podemos mostrar a importância da agricultura orgânica no nosso País hoje”.
Integrante do Acampamento Maria Rosa, Rosane Mainardes também destacou a importância do vídeo para o registro histórico da comunidade: “Foi muito gratificante ver e ouvir um pouco das histórias das famílias e as formas que elas chegaram ao acampamento. Ver os olhares delas de felicidade e de grandes conquistas. Ver a importância que elas falavam do alimento sem agrotóxico e a diferença que o Movimento Sem Terra teve em suas vidas. Esse filme resgata a importância da reforma agraria”.
A produção de “Doze meses de resistência: a terra como horizonte de vida” o contou com o apoio dos estudantes de Jornalismo, Carine Cruz e Felipe Prates, de Geografia, Rodrimar Paes, e do professor do Departamento de Jornalismo, Sérgio Luiz Gadini. O documentário está disponível nas páginas da Agência de Jornalismo nas redes sociais https://www.youtube.com/watch?v=6WcTMx4a-N4 e https://www.facebook.com/AgenciaJornalismoUepg/ e também será veiculado na TV Comunitária de Ponta Grossa (TVCom, canal 17, no cabo).
A ocupação – Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, às 5h da manhã de uma segunda-feira, em 24 de agosto de 2015, a Fazenda Capão Cipó, onde estava instalada a Fundação ABC, voltada às pesquisas agropecuárias para as Cooperativas Capal (Arapoti), Batavo e Castrolanda, na região dos Campos Gerais, no Paraná. Cerca de 150 famílias, entre homens, mulheres e crianças, ocuparam a Fazenda situada a sete quilômetros de Castro.
As terras onde estava instalada a Fundação ABC são de propriedade da União, que, desde 30 de abril de 2014, aguardava a reintegração de posse. Isto é, através de medida liminar, a União pedira à Fundação ABC deixar as terras, por ter encerrado período de comodato, segundo o MST.
A Fazenda Capão Cipó possui cerca de 300 hectares de área. As famílias sem terra vieram dos municípios de Castro, Lapa, Teixeira Soares, Ipiranga e Ponta Grossa e construíram no local o Acampamento Maria Rosa do Contestado.
Texto produzido pela Agência de Jornalismo