Lançado em 29 de outubro, o quarto álbum de estúdio de Doja Cat, intitulado Scarlet, vem ao mundo como uma forma de introduzir a cantora ao hip-hop. Com uma divulgação recheada de polêmicas, o compilado de músicas entrega o que propõe, mas fica abaixo das expectativas quando se trata de Doja Cat. São poucas as canções que se destacam no trabalho, deixando a obra completa em uma nota só, ao se analisar o geral.
Começando pelo o que é bom, Doja selecionou corretamente as músicas para trabalhar como singles, sendo elas os maiores destaques. Paint The Town Red e Agora Hills já nascem clássicos da música moderna, tanto pela composição quanto pela produção; possuem um fator a mais pouco trabalhado em músicas na atualidade, a sinceridade sem medo do dito “cancelamento”, especialmente no hip-hop mainstream. Mas das músicas já trabalhadas, Demons é de longe a melhor. Com uma letra que brinca com a lenda urbana de cantoras que vendem a alma ao diabo pela fama, Doja entrega uma das melhores canções de sua carreira, ainda mais pelo fato de fugir do pop-rap, estilo que abrigou seus últimos trabalhos, como a própria cita ironicamente na composição.
Infelizmente, o resto do álbum não consegue seguir esse padrão de qualidade. Can’t Wait, Gun e 97 são as melhores do conjunto que não havia sido trabalhado. Entretanto, não fogem da mesmice que o álbum se torna ao passarem os singles. A rapper tenta inovar na produção e brincar com sua própria imagem, ao criar o alter-ego que leva o nome do álbum, mas não vai além do mediano. Até mesmo na primeira música trabalhada no processo de divulgação, Attention, Doja entrega algo que facilmente poderia ter sido um descarte de alguma mixtape de Nicki Minaj.
Após três álbuns muito bem trabalhados, que renderam hits recordistas e um prêmio Grammy para a cantora, Scarlet é decepcionante. O que poderia ser um trabalho para entrar para a história se torna apenas mais um genérico. E até mesmo sem comparar com suas obras anteriores, o álbum não consegue deixar o status de “ok”. Músicas como Wet Vagina, Fuck The Girls (FTG), Go Off e Stutcho são exemplos de composições que parecem estar lá somente para completar o requisito mínimo de canções para o lançamento.
Isso vem após a massiva divulgação desse trabalho por Doja Cat, em que o planejamento parecia envolver diversas polêmicas ao mesmo tempo. Tatuagens de imagens satanistas, rumores de pacto com demônios, declarações sobre odiar seus fãs e ter feito todos seus álbuns anteriores só pela fama são alguns dos exemplos que foram usados por Doja durante o processo de divulgação. E com isso, a expectativa seria que a produção falasse sobre tudo o que foi repercutido anteriormente. Realmente é abordado, mas de forma tão espaçada e rasa que, durante a reprodução das músicas, você se pergunta qual é a narrativa que a rapper quis construir para a obra após todas essas confusões.
Para finalizar, Scarlet é mais um álbum wannabe, isto é, deseja ser mais do que realmente é. Não atinge o padrão de qualidade que se espera de Doja Cat como obra completa. Não é coeso, pois cria uma narrativa que nunca termina e ainda consegue se perder nela mesma. Esse trabalho poderia ser a grande porta de entrada dela no hip-hop mas, no fim, se tornou apenas uma fresta do que ela é capaz de produzir. Em algum momento, é possível que a artista se arrependa desse álbum e da forma que foi sua recepção, mas por enquanto Doja diz somente: “Eu não preciso de outro hit, porque é inútil na realidade”.