Nascida em Curitiba, Uliane Tatit é a representante do estado do Paraná no 75º Festival Internacional de Cinema de Berlim com o curta-metragem Juanita (2025). Dirigido em parceria com a dominicana Karen Joaquín, o curta conta a história de uma menina que sente as pressões da sociedade sobre seu corpo e como deve reagir ao julgamento de outros. Juanita estreou mundialmente no festival em fevereiro e recebeu boas críticas do público que acompanhou o filme.
Em entrevista ao Cultura Plural, a curitibana comentou que a ideia do curta surgiu a partir de uma conversa com Karen Joaquín, quando discutiam a “necessidade” de se depilarem para irem à praia e como isso as incomodava profundamente. “E daí surgiu: ‘por que a gente não faz um filme falando sobre nossas inseguranças?’”. O roteiro começou a ser escrito em 2022, em um momento que Uliane e Karen estavam tão eufóricas com suas ideias que começaram a desenvolver ao mesmo tempo a história. Uma complementou a outra.
Em apenas 15 minutos, de acordo com Uliane, foi feita uma primeira versão do roteiro. Com o tempo, a história foi editada e criou forma. Elas foram selecionadas por um edital do Institut Català de les Empreses Culturals (ICEC). Juanita levou cerca de dois anos para ser concluído, tanto por questões técnicas quanto por questões financeiras e burocráticas. “Precisamos gravar em uma praia vizinha à Barcelona e pagamos 300 euros por quatro horas. É muita burocracia para fazer as coisas”. A diretora lembra que, durante esse processo, a criatividade aflorada que ela e Karen tiveram no começo, teve que ser contida, para que pudessem terminar o projeto com êxito.
A seleção para o festival
“De repente saiu uma parte do programa, em dezembro passado, e eu Karen falamos: ‘a gente não entrou’”. A decepção de terem trabalhado por anos em Juanita e mesmo assim não terem atingido suas metas foi um choque para a dupla de diretoras. Entretanto, no começo de janeiro, elas receberam um e-mail com comentários de todo o comitê de seleção, que confirmava sua participação no festival. “Isso é incomum dentro do circuitos dos festivais. Os candidatos costumam receber somente um ‘sim ou não’”, comenta Uliane.
Para que o filme pudesse chegar em Berlim, Uliane e Karen tiveram que correr contra o tempo para preparar todo o material de divulgação do curta, bem como lidar com outras burocracias para que conseguissem exibi-lo. Já na cidade alemã, Uliane narra que chegaram “no ritmo de fazer as coisas, participar de reuniões, projeções” e assim continuaram durante todo o período do festival. Durante a entrevista, inclusive, a curitibana comentou que havia saído há pouco tempo de uma sessão do filme e já estava se dirigindo para outra, em um local diferente. “Esse é o momento de mudar sua carreira”, conclui Uliane ao refletir sobre tudo que está vivendo em Berlim.
A recepção do público
O filme foi escalado na mostra “Generation KPlus”, onde são mostrados filmes que retratam a infância/adolescência para o público mais jovem e jovem-adulto. Dentro das sessões, a diretora curitibana comentou que o público foi muito “expressivo”; exclamaram suas reações com murmúrios, risadas e outras formas de emitir seus sentimentos em relação ao filme.
Uliane também destaca o momento pós-exibição, uma sessão de perguntas e respostas com os produtores. “As crianças perguntam coisas que você nem imagina. Elas não tem filtro nenhum”. Para a diretora, esse é um dos objetivos do filme, fazer com que o público se identifique com a história de uma menina que está começando a se sentir pressionada com seu corpo. “É algo que todo mundo já passou”, enfatiza.
Confira o curta-metragem Juanita (2025):
https://drive.google.com/file/d/1MTRRrgmbigzZaIvh30i2LdpotoE5Sw3p/view?usp=sharing
Trecho do Juanita/ Reprodução: Aguacate & Calabaza Films
Projetos futuros
Após a finalização de Juanita, Uliane começou a trabalhar no projeto de seu primeiro longa-metragem de ficção, Boa Nai. Ainda em fase de estudo e desenvolvimento, o projeto irá se passar na região espanhola da Galícia e tem como background a Operação Carioca – operação conjunta do Brasil com a Espanha contra o tráfico sexual. No longa, a protagonista será uma imigrante brasileira.
Para saber mais sobre a diretora e seus trabalhos, passados e futuros, seu site registra seu acervo de produções jornalísticas e cinematográficas.