Por Gabriel Aparecido
Indicado a cinco categorias do Oscar 2025, o longa-metragem Anora conta a história de uma stripper de mesmo nome que, durante uma de suas noites de trabalho, é contratada por Ivan (Mark Eydelshteyn), um jovem russo, filho de uma família de oligarcas. Os dois começam a viver um romance que culmina em casamento. Entretanto, o clímax do filme ocorre com a descoberta do matrimônio pela família de Ivan, que tentará a todo custo anular o noivado dele com Anora (Mikey Madison).
O longa é composto por diferentes gêneros em um espaço de pouco mais de duas horas. O começo é uma comédia romântica à la Uma linda mulher (1990), em que um milionário se apaixona perdidamente pela prostituta. Mas em Anora o conto de fadas é muito mais curto e, de repente, o filme se torna um drama onde o espectador acompanha a personagem de Madison tentando cada vez mais acreditar no futuro de sua relação com Ivan.
Esse ponto de virada do filme é algo impossível de não se falar. Nesta cena é onde são apresentados os personagens Toros (Karren Karagulian), Garink (Vache Tovmasyan) e Igor (Yura Borisov), que irão acompanhar Anora até o final do longa. Em uma sequência de pouco mais de 20 minutos, os personagens protagonizam uma das cenas mais caóticas e engraçadas do longa, com um destaque maior para os momentos em que Anora discute com Toros pelo telefone e a própria introdução do personagem de Borisov.
Outro ponto a se destacar é a relação entre Igor e Anora, que durante toda a segunda metade do filme se mostra cada vez mais profunda. Ambos os personagens podem ser considerados como os “estrangeiros” no lugar em que estão inseridos. O longa mostra como eles são diferentes e como “não pertencem” à alta sociedade em que foram inseridos, Igor por trabalho e Anora pelo casamento. Essa percepção é observada tanto pela fotografia, que decide sempre manter os dois no mesmo plano desde a introdução de Borisov, quanto pelo roteiro, que deixa Igor numa posição mais retraída em relação a Anora, mas sempre com um sentimento de compreensão do que ela está vivendo.
Apesar da sinopse do filme propor um conto de fadas moderno, a quebra de expectativa causada no decorrer da trama é o ponto alto do filme. Compreender a complexidade dos personagens para além de uma história de amor entre uma stripper e um milionário é algo muito bem realizado pelo diretor Sean Baker (Projeto Flórida). Entender para além do básico do roteiro e notar a profundidade dos personagens é com certeza o que destaca Anora dos demais candidatos.
Merece destaque também a atuação estelar de Mikey Madison, que por si só conseguiria carregar o filme todo. A cena final do longa, em que chora nos braços de Igor, suas interações com Ivan do começo e o momento do divórcio são apenas alguns exemplos de seu brilhantismo nessa performance. Entretanto, a cena que realmente poderia lhe render o Oscar é todo o momento em que discute com Ivan e sua mãe no aeroporto, por mais que tenha poucas falas.
Por fim, Anora é um filme que vale a pena assistir. É engraçado na medida certa, podendo render uma reflexão do espectador. Ele tenta tirar um esteriótipo das trabalhadores do sexo, tenta desmitificar um pouco suas vidas, apesar de parecer um assunto batido. Consegue fazer pensar em como o sistema capitalista de classes sociais trata as pessoas de fora da burguesia de forma nua e crua. Anora infelizmente não tem o final de conto de fadas que busca no longa, mas Mikey pode conseguir na noite do Oscar.