Por Gabriel Aparecido
Colocando um ponto final em sua quadrilogia de álbuns, Jão traz para o público a obra SUPER. Com o conceito do trabalho baseado fortemente no fogo, o paulistano mobiliza toda a mitologia por trás desse elemento para dar voz ao sentimentalismo exacerbado de suas novas músicas, levando o ouvinte em uma viagem pelo seu coração. Jão consegue transmitir com facilidade e qualidade suas histórias de amor sem final feliz, enquanto simultaneamente compõe uma espécie de carta de amor aos seus fãs, referenciando seus trabalhos anteriores por toda a extensão do álbum.
Para abrir a obra, a raivosa Escorpião deixa claro que o cantor quer distância da sonoridade de seus trabalhos anteriores, sendo esse o fator que leva a música a ser um dos pontos mais altos de SUPER. A produção, que lembra o country e o rock estadunidenses, consegue se traduzir para uma peça brasileira de excelência máxima e única. E outras que fogem do clássico estilo do paulistano são Gameboy e São Paulo, 2015; no entanto, essa última não consegue seguir o padrão de qualidade das outras duas.
Entretanto, o cantor não foge de sua sonoridade conhecida e de suas letras de “menino sofredor”. Julho, Sinais e Alinhamento Milenar são as que se encontram nessa categoria. A primeira se destaca mais que as outras, o tom melancólico da produção em junção com uma das letras mais tristes da carreira de Jão é magnífico. Esta funciona muito bem com Maria, que tem a melhor composição do trabalho. Ambas formam uma história de desilusão amorosa, que apesar de ser um tema recorrente de sua discografia, mostram possuir uma narrativa diferente das já contadas, com composição amadurecida e consciente de seus sentimentos.
Outras músicas que seguem esse padrão narrativo, mas em outro viés, são Rádio e Lábia. A primeira é de longe a melhor música do álbum. Sua composição e produção combinam perfeitamente com o proposto por Jão: o de um menino do interior que se aventurou nos amores de uma cidade grande e agora tem que lidar com a perda deles, junto com sua ascensão profissional. Já o segundo é mais uma canção pop que brinca com as melodias divertidas e as letras sobre dependências amorosas, disfarçadas de paixões desenfreadas – que por fim acaba se complementando com Se o Problema era Você, Por Que Doeu em Mim?, mostrando a evolução do eu-lírico em notar essa dependência e conseguir sair dela, de certo modo.
E para finalizar, a faixa-título soa como um agradecimento aos fãs que acompanharam Jão durante esses anos de trabalho. Referenciando a si próprio nas letras e na melodia, o paulistano encerra esse ciclo de quatro álbuns de um modo que somente quem o acompanha consegue notar a grandiosidade. Isso é algo visto não somente na faixa final, mas durante todo o álbum, que possui referências à músicas como Meninos e Meninas e Monstros, favoritas dos fãs.
Em síntese, SUPER é um ótimo álbum, apesar de não se igualar a ANTI-HERÓI, considerado o melhor trabalho de Jão. Mas a singularidade que as músicas deste álbum possuem são capazes de elevar ainda mais o patamar de qualidade do paulistano. E além disso, o fator da memória afetiva que os fãs do cantor podem criar ao escutar estas músicas irá contribuir ainda mais para o sucesso merecidíssimo deste. SUPER é uma carta de encerramento de um ciclo, escrita com uma tinta composta de muito sangue, suor e lágrimas; mas que, ao fim, torna-se uma das mais belas composições atuais da música nacional.