Como expressar a famosa frieza curitibana de um modo diferente do que já foi retratado? Criando uma coletânea de histórias em quadrinhos, onde a antiga Cidade Sorriso se vê infestada por zumbis dos mais diversos tipos. Essa é a proposta de “Cidade Sorriso dos Mortos-Vivos”, coletânea de histórias e artes de mais de 50 artistas, que conseguem retratar de forma cômica, obscura e única o apocalipse zumbi na capital paranaense.
A obra está repleta de referências a Curitiba, que de acordo com os idealizadores do projeto é o personagem principal de todas as tramas. E é perceptível durante a leitura que Curitiba deixa de ser somente um espaço físico. A presença de lendas urbanas, personalidades e histórias da região, como Maria Bueno, o Oilman e o jacaré do Barigui, respectivamente, deixam tudo muito mais interessante do que já é. Mas não só isso, o uso de expressões usadas unicamente na cidade abre o sorriso de qualquer curitibano de cara fechada.
A multiplicidade de estilos e histórias também impressiona os leitores. Para exemplificar, basta trazer duas histórias que se destacam: “O Fantástico Show da Vida” de M Leonard Devoe e Adriano, O Impiedoso e “O Que Não Fazer em Curitiba” de Aluísio Barbosa. A primeira possui traços mais realistas e uma proposta que brinca com o terror à la Evil Dead, com uma história de líderes de torcida mortas e que se organizam numa gangue para dominar a cidade das araucárias. Já a segunda traz um guia de como sobreviver em Curitiba caso haja um apocalipse zumbi e, com uma ironia ácida, brinca com o estilo de vida curitibano de um modo que arranca risadas de quem nunca sequer chegou perto da capital paranaense.
Excerto de uma das histórias da coletânea | Desenho: Antonio Eder
São poucos os pontos negativos que se consegue tirar de “Cidade Sorriso”. O único possível é o grande número de histórias dentro da coletânea, que durante determinado momento, estagnam o fluxo de leitura e fazem com que o ritmo se perca aos poucos. Entretanto, as tramas com enredo mais lento situadas no meio do livro fazem com que se termine a leitura com uma lembrança boa do que acabou de consumir, deixando aquele “gosto de quero mais”.
Deste modo, pode-se ter uma perspectiva da obra completa e uma sensação de querer ler mais um pouco de piadas sobre o que é ser curitibano, inseridas em histórias de horror. Para quem entra na obra esperando uma simples paródia da “Madrugada dos Mortos-Vivos” no Largo da Ordem, “Cidade Sorriso dos Mortos-Vivos” consegue ser muito mais do que apenas isso. O livro mostra que não é necessário conhecer a cidade do Boqueirão à Santa Felicidade para se divertir e sentir um quentinho no coração ao ler uma trama sobre zumbis gerados a partir de vinas contaminadas.