Por Amanda Stafin e Vinicius Orza
Em 2010, a cantora e compositora Taylor Swift estava no primeiro de seus auges por ter vencido o prêmio de Álbum do Ano pelo Grammy. Seu nome ficava cada vez mais evidente graças à aclamação recebida, em especial às polêmicas em que se envolvia, incluindo o fatídico caso em que foi interrompida durante seu discurso do VMA de 2009 e às críticas de jornalistas da época, que diziam que as músicas não eram escritas por ela, sua voz era ruim e que não iria longe como artista.
Com o olho no furacão e uma promessa de realizar um álbum ainda melhor que o anterior, Taylor Swift sentia um incessante desejo de se provar melhor, de mostrar a sua verdadeira capacidade, e foi a partir desses desejos que o conceito do Speak Now viria a ser construído. A ideia era abraçar cada vez que se sentia a necessidade de se expressar mas manteve-se quieto por qualquer motivo, ou àqueles que estavam crescendo e se viam desamparados com tantas dificuldades repentinas da vida acontecendo para si, sentimentos que se mesclavam a uma fúria e um enorme anseio de enfim ser ouvida. ‘’Estas músicas são feitas de palavras que eu não disse mesmo quando o momento certo estava escancarado à minha frente’’, disse a cantora no encarte do disco da época, este que é marcado entre os fãs por ter sido inteiro escrito pela própria, sem ajuda alguma de coprodutores, servindo como uma resposta àqueles que duvidavam de sua capacidade de composição na época.
Treze anos após o lançamento original, chega a vez do roxinho da discografia ser regravado. Lançado no dia sete de julho de 2023, o Speak Now Taylor’s Version é a terceira regravação lançada pela cantora. Após os direitos dos seus seis primeiros álbuns serem vendidos sem o seu consentimento, ela vem lançando novas versões com vocais e instrumentais atuais para seus discos antigos, incluindo músicas novas que estavam guardadas e nunca haviam visto a luz do dia até então, as chamadas from the vault.
Foto: Reprodução
O álbum é marcado por uma sonoridade mais robusta e encorpada, com letras viscerais e cruas, além de maiores orquestrações e exploração do alcance vocal. Destaca-se na implementação do característico pop-rock da época a já conhecida produção pop-country que catapultou o Fearless, o que gerou algumas das músicas mais pesadas sonoramente de toda a carreira, com guitarras carregadas e baterias marcadas, como em Better Than Revenge e Haunted. A duração das faixas está maior, o produtor não teve receio em usar o tempo que fosse necessário para capturar a atmosfera que a música pedia, como em Last Kiss, que além de ter mais de seis minutos, ainda conta com uma introdução de 27 segundos que referencia uma ligação de término com o seu ex namorado Joe Jonas, personagem que inclusive foi o gerador da letra da música como um todo.
Já no assunto ex, tão usado ao ser falado sobre a cantora, teve um catalisador principal que inspirou algumas das músicas do projeto. O relacionamento com o também cantor John Mayer durou apenas alguns meses, mas foi marcante o suficiente para criar músicas intensas sobre o caso, como em Dear John, uma forte música de quase sete minutos que narra de forma metafórica e violenta a relação complicada que eles tinham enquanto namorados com 12 anos de diferença, com direito ao nome dele no título da canção.
Explorando outras nuances do conceito apresentado: Taylor narra a dificuldade de crescer; a importância do perdão e de saber se desculpar diante do erro em alguma situação; o sentimento de conhecer uma pessoa nova e se apaixonar só com um olhar; além da raiva e insatisfação ao ser criticada injustamente por uma pessoa que ela sabia que só estava fazendo isso para lhe fazer mal. Em todas estas situações a ideia principal é abraçada, e fica o questionamento de como o simples ato de falar e expressar o que você está sentindo pode mudar completamente a sua vida, funcionando como um efeito borboleta, como acontecimentos em cadeia que se alteram no seu destino a cada pequena atitude. A cantora faz um convite para nos deixarmos permitir mais, e estarmos mais suscetíveis às experiências e oportunidades oferecidas, que acabamos por perdê-las pelo simples fato de termos ficado calados. Se tivéssemos agido diferente naquele momento crucial, como poderia ser o presente?
As novas faixas do chamado cofre contemplam os princípios do álbum e nos dão uma nova percepção de como ela se sentia na época, e também é perceptível o motivo de não terem entrado na versão original do álbum. O medo pode ter vindo após ter expressado sentimentos que poderiam ser vistos como ruins por aqueles que já a criticavam, dando ainda mais munição para estas pessoas na época. Em When Emma Falls In Love é relatada uma certa inveja por uma amiga devido aos seus relacionamentos que dão certo, em contraste aos perturbados e falhos da cantora. Em Castles Crumbling ela descreve como sentia a culpa de que tudo estava desmoronando ao seu redor, e a dificuldade de lidar com as críticas da época. Uma possível relação sexual é ainda citada em I Can See You, e o receio da pequena garota de Nashville ser vista cantando sobre temas como este devem a ter assustado a não lançar uma de suas músicas mais sexy já produzidas até hoje.
Foto: Divulgação
Após revisitar, hoje Taylor Swift é uma das maiores artistas do mundo, só mostra o quanto o Speak Now sobreviveu ao tempo e foi importante para a sua carreira e para a sua formação. Foi um ponto de virada para composições melhores e mais destemidas, além de ter aprendido a contar suas narrativas e histórias de uma forma que fizesse o público enxergar tudo aquilo que estava sendo contado. Maturidade, crescimento e empoderamento definem o momento em que ela se apresenta como a queridinha dos fãs.
Confira as músicas destaque indicadas pelos nossos repórteres:
Amanda Stafin:
Vinicius Orza: