Por Emanuelle Pasqualotto, Lorena Rocha e Vinicius Orza
A décima edição da Feira do projeto Cultura Plural, do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), reuniu interessados em conhecer e prestigiar a cultura e a arte local. O público pôde vivenciar experiências culturais diversas, expostas e apresentadas por artistas e produtores da cidade.
Dentre as diferentes expressões culturais, destacam-se músicas de diferentes estilos, nacionais e internacionais, performances de danças, grupos de bailarinas, encenações teatrais que despertavam a imaginação e a reflexão, exposições de obras fotográficas e artísticas, produtos de artesanato e desenhos que revelavam diferentes traços e inspirações.
Como um verdadeiro mosaico de expressões, o evento aconteceu no último sábado (23), no Sesc Estação Saudade, e ocupou a programação da tarde entre 13 e 17 horas. Ao todo, 26 atrações fizeram parte da programação, reafirmando o propósito da Feira em integrar e dar visibilidade à pluralidade de manifestações culturais presentes em Ponta Grossa.
A Academia de Dança Pró Arte, participante da Feira pela primeira vez, deu início às apresentações do dia por meio dos movimentos da dança. Flávia Yassugui, professora da academia há cinco anos, explica a importância de inserir essa expressão artística no evento. “A dança vai muito além da arte. É preciso mostrar para a cidade que a arte, e o ballet clássico estão crescendo”, relata.
Em uma celebração lúdica ao imaginário infantil, o teatro CECI apresentou o monólogo “Onde Está Rosa?”, uma aventura repleta de poesia e fantasia. A encenação autoral é um compilado de inspirações adaptadas para a apresentação com referências à cultura antiga presente no imaginário do povo brasileiro. A atriz há mais de dez anos, Jennyfer Muniz, destaca a importância da Feira como um espaço capaz de atingir novos públicos com diferentes tipos de artes. “A imaginação é importante para todos os momentos da vida, não podemos deixar ela se perder”, defende.
Autodenominados com um estilo musical que mescla o rock triste com o pagode psicodélico, Laika Está Ausente mostrou suas individualidades ao público em uma apresentação repleta de carisma. A banda tem pouco mais de um ano de existência e, para eles, o público precisa abraçar as oportunidades de conhecer novos artistas e gêneros. “É preciso estar de mente aberta para consumir o que está sendo apresentado além da cultura mainstream de Ponta Grossa”, defendem. O single “Orquídea” será lançado no dia 5 de setembro nas plataformas digitais, e o pré-save já está disponível.
Além das academias, também houve a representação da dança independente e individual. Em sua segunda passagem pela Feira, Larissa Camillo apresentou os movimentos típicos da dança cigana para o público e destacou seu propósito. “Gostaria de transmitir o empoderamento feminino através da dança. O estilo cigano traz uma questão muito acolhedora”, avalia a dançarina. Larissa ainda cita que a feira serve como um local de visibilidade para as pessoas conhecerem outros segmentos da cultura pontagrossense.
Com um estilo acústico e característico, Walter Aguiar conquista atenção nas noites boêmias de Ponta Grossa há cerca de três anos. Agora, o cantor e estudante de Música na UEPG aproveita a apresentação vespertina para alçar novos horizontes com o seu trabalho. “É muito interessante você poder mostrar o seu som e a arte para as pessoas”, destaca. Para ele, a Feira é uma boa oportunidade para os artistas terem visibilidade e poderem enriquecer a cultura da cidade com seu trabalho.
“Eu não faço teatro, é o teatro que me faz”, destacou Júlia Almeida após uma encenação carregada de reflexões autorais acerca da sensação de desilusão com a vida. A atriz, em seu segundo ano seguido na Feira, traz um monólogo descrito como um “combo de sentimentos”, que representa o sentimento de estar perdido e querer se encontrar. Para ela, o teatro é capaz de dizer aquilo que nem você consegue expressar, para enfim, conseguir se encontrar. “Como artista, é muito importante que você tenha o seu trabalho visto. Não tem nada que a arte goste mais do que ser vista”, observa.
Além das apresentações, a mostra cultural celebrou a diversidade artística com exposições de curadoria autoral dos convidados. O desenhista Bruno Farias foi um dos expositores que aproveitaram o espaço disponível. Ele conta que a Feira foi sua primeira experiência de exposição ao vivo para o público. Suas expectativas foram ultrapassadas ao conseguir até mesmo vender seus desenhos estilísticos, algo que ele nem esperava. “A intenção é colocar o meu olhar sob os traços para demonstrar a minha relação espacial e como eu me relaciono com as pessoas da cidade”, declara.
O jornal literário Mural, que completou um ano de existência nos últimos meses, também esteve presente para expor o trabalho de visibilidade de sentimentos e angústias dos autores. O idealizador do projeto, João Matheus Fuglini, destaca o espaço como um momento de troca de inspirações com outros artistas. “É importante para criar corpo dentro da arte e da literatura”, defende. Ele ainda relata que as pessoas podem despertar o gosto pela leitura com o simples ato de pegar uma edição e ler um poema ou crônica que seja, afinal, o que mais vale é o ato de querer ler algo.
“Carne, osso e tinta”, assim se define Dan, representante da arte da tatuagem na Feira. A tatuadora reconhece seu traço como algo carregado visualmente, repleto de raiva, sangue, tristeza e das partes feias do ser humano. Para ela, a Feira serve como uma oportunidade para os artistas mostrarem seu trabalho para pessoas que podem se apaixonar por um novo tipo de expressão que nem conheciam direito anteriormente. “A arte é vida. É a forma visceral que nós temos de colocar o que temos de dentro para fora”, conclui.
A Casa do Artesão também já é veterana da Feira, e completa 36 anos de existência produzindo experiências e sentimentos de pertencimento através das peças produzidas. A artesã, Maria Luiza Cavazotti, trabalha com a confecção dos produtos e símbolos de Ponta Grossa há quase oito anos, e valoriza o espaço disponível como uma oportunidade de visibilidade e troca cultural. “São iniciativas como essa que fazem a diferença para a sociedade ter o pertencimento de quem somos nós”, pontua. A Casa do Artesão está localizada na Concha Acústica da Praça Barão do Rio Branco, com atendimento de segunda a sexta-feira até as 17h, e nos sábados até 13h.
Outros projetos do curso de Jornalismo da UEPG agregaram a programação da tarde de sábado. O Lente Quente e o Foca Foto foram responsáveis por organizar exposições de fotografias. Taís Maria Ferreira, responsável pelo Foca Foto, ressalta a importância dos projetos de extensão. “A universidade tem lugares voltados para a comunidade, e a extensão é um deles. Ela mostra o quanto de conhecimento pode ser agregado através desses espaços”. Taís complementa que a fotografia traz inspirações e faz relembrar a memória da cidade.
O bolsista do projeto Lente Quente, João Pimentel, auxiliou na curadoria e montagem das exposições presentes. João aponta que uma das mostras é sobre as questões ambientais e a outra – dentro de monóculos – sobre cultura. “A fotografia apresenta um mundo que muitos podem não ter visto. Ela oportuniza as pessoas a terem um contato com a cultura que, muitas vezes, não é acessível para todos”, destaca.
Lucélia Clarindo, do Coletivo Bando da Leitura, foi a homenageada pelo projeto Lente Quente, e assumiu o espaço de contação de histórias da feira, conduzindo o público por caminhos de imaginação e fantasia através da força das palavras.
Na música, a cultura se diversificou através da voz de Victor Almeida, que levou um repertório nacional ao público com direito a gaita e violão. Eulimo, vencedor do Festival Universitário da Canção (FUC) de 2025, voltou a emocionar com composições autorais e apresentações inéditas de seu novo álbum, “ISSO É EULIMO”, que será lançado no dia 9 de setembro. A cantora Lívia Anjos levou canções conhecidas que conquistaram os ouvidos com seu timbre marcante. Já Joyce Clara, no violino, transformou cada nota em um espetáculo de expressão artística. Konann e 3madru, representantes da cena do rap de Ponta Grossa, levaram suas referências e sonoridades características que movimentaram a Estação. E na dança, a Escola Elevée, especializada em ballet, jazz, contemporâneo e hip hop, representou a força da expressão do movimento como linguagem cultural.
Entre outros expositores que marcaram presença na 10ª Feira do Cultura Plural representando a cena das artes visuais de Ponta Grossa, estiveram Victor Schinato, com ilustrações; Denise Beraldo, ao lado da Casa do Artesão; Elaine Cherevate e Lucas Lima, que expõem sentimentos através do traço; e Sebastião Natalio, jornalista que também encontra na arte uma forma de expressão.
As apresentações e exposições da mostra permitem ao público conhecer diferentes expressões artísticas em um espaço plural de troca de experiências. Para Thomas Chambrek, que visitou a Feira pela primeira vez, a variedade de produções disponíveis é um chamariz da cultural local de Ponta Grossa. “Vejo que ela tem muito a agregar com toda essa interação oferecida”, afirma.
A tarde da décima Feira do Cultura Plural marcou mais do que uma vitrine da cultura, mas acima de tudo, reafirmou a importância da arte como elo de pertencimento que deve ser valorizado e preservado. Cada apresentação serviu como um convite à reflexão sobre a diversidade local e o papel da produção artística viva para a cena cultural de Ponta Grossa, destacando as pontes entre artistas, produtores e comunidade.