Por Cultura Plural
Por Amanda Stafin, Fabricio Zvir e Vini Orza
Após a atual popularização de longas animados inspirados em jogos clássicos, como em ‘’Pokémon: Detetive Pikachu, 2019’’ e ‘’Sonic, 2020’’, a nova aposta veio por parte da empresa Nintendo. Ao ceder os direitos de seu personagem mais famoso, o Mario, desde as primeiras divulgações sobre a produção do filme já surgiram preocupações do público em relação à qualidade do roteiro e à dúvida se ele iria se sustentar somente pela nostalgia do público.
Em partes, o sentimentalismo assegura parte da experiência, mesmo que não se mantenha por si só. É inegável a importância que o saudosismo tem na experiência do telespectador em qualquer tipo de obra que resgate memórias passadas, e na nova aventura do encanador bigodudo mais famoso do mundo não seria diferente. O filme está repleto de referências, sejam elas cômicas, musicais ou mais simples questões visuais, e esse tipo de detalhe é algo que somente um fã mais longínquo da franquia consegue identificar e se entusiasmar com o carinho posto pelos envolvidos em cada um desses easter eggs do filme. Se o objetivo era esse, foi claramente alcançado, tendo em vista a quantidade de pessoas mais velhas que estão lotando as salas de cinema de todo o Brasil, tendo alcançado o feito de ultrapassar a marca de US$ 500 milhões nas bilheterias mundiais em menos de duas semanas, se tornando a maior do ano até então.
Diante do difícil papel de adaptar um jogo clássico para um longa-metragem animado, os diretores Aaron Horvath e Michael Jelenic tiveram que criar e reinventar muita coisa para tudo fazer sentido no contexto atual. A história, que antes era mais subjetiva e sem foco, agora é mostrada desde o começo com grande importância para a relação de irmandade e carinho entre os dois protagonistas. Seus empregos, personalidades e relações com os familiares, algo nunca antes explorado na série de jogos com tanta ênfase, tiveram papel fundamental na estruturação do enredo.
Outra clara diferença é quanto à Princesa Peach, antes, uma indefesa personagem que precisava ser resgatada a cada novo lançamento, raramente revidava ou tinha alguma reação para evitar seus sequestros incessantes. Agora, Peach denota-se como uma mulher forte e independente, que faz muito mais durante o filme do que o próprio protagonista. Como não mais precisa ser salva, a narrativa muda ao ser Luigi quem necessita de salvação, fazendo ainda com que ela tenha mais destaque em todo o decorrer da aventura, com direito a monólogos e um flashback de sua chegada ao Reino dos Cogumelos nunca antes visto durante os jogos da série.
A preocupação inicial de qualquer um que pretende assistir uma adaptação cinematográfica de algum jogo é logo perdida em poucos minutos de tela, pois o que se tem é um legítimo filme do Mario. O longa não se perde na própria proposta ou quer inventar demais, priorizando durante toda a duração o compromisso com a fidelidade da obra original. Ainda assim, ele sofre de problemas clássicos que muitos filmes que têm como público alvo principal o infantil apresentam, como a conveniência e facilidade para se resolver conflitos da trama, em que tudo parece dar certo e errado no momento oportuno, sem muita surpresa nem nada imprevisível, além da constante pressa que o roteiro tenta sustentar, deixando a impressão de que houve a necessidade de comprimir a história e diminuir certos acontecimentos para que o tempo estipulado fosse alcançado.
Outros problemas a serem notados são quase imprescindíveis para qualquer filme que se estabeleça como tal, e os seus momentos mais bobos e sem sentido num âmbito geral podem ser facilmente explicados pelos telespectadores que foram pensados como foco. Sempre é possível fazer uma obra teoricamente ‘’infantil’’ envolver ao mesmo tempo todos os públicos, sem precisar forçar uma infantilidade vendável, além de complexidades narrativas que derivam de conceitos e pensamentos mais profundos que exigem certa maturidade para serem compreendidos. Esse tipo de reflexão ajuda a tornar qualquer obra mais longínqua na memória daqueles que a consomem, dependendo da mensagem retratada. Porém, mesmo que esse aspecto não seja uma obrigação, parece faltar no filme, mas não chega a comprometer toda a experiência. O enredo leve e divertido ainda acaba se sobressaindo e mantendo-se como o elemento primordial.
“Super Mario Bros. O Filme” marca um importante período para as futuras adaptações cinematográficas de jogos. Com tamanho sucesso e compromisso com a fidelidade original, o longa pode se tornar um ponto de virada para outras obras que venham a seguir essa fórmula e se estabelecer no mercado. Agora resta saber se as portas abertas por Mario serão aproveitadas por novos lançamentos do gênero nos próximos anos, e qual será a sua importância no tempo presente. Parece que finalmente a princesa não estava passiva em um castelo e isso é significativo na revisão de narrativas cinematográficas.