Dirigido por Todd Field, Tár é um dos maiores destaques da temporada de premiações de 2023. Ao contar a história de Lydia Tár, primeira mulher alemã a reger uma orquestra e com ações tão reprováveis quanto as de J.K. Rowling (“Harry Potter”), o filme conta com um roteiro bem trabalhado, fazendo com que o telespectador creia que o longa é baseado em uma história real e se compadeça de uma personagem com a moral questionável.
Entretanto, o maior destaque do filme é a atuação de Cate Blanchett, que consegue mostrar toda a grandiosidade da personagem e a submissão aos seus devaneios e loucuras. Na cena inicial do filme, em que a personagem de Blanchett faz uma entrevista, percebe-se o quão incrível será a experiência de acompanhá-la durante a construção da personalidade única de Lydia Tár.
Outro fator de destaque é a fotografia da obra, uma relevante contribuição para Blanchett, tornando a sua atuação ainda mais grandiosa, com a ajuda dos ângulos certos em momentos específicos dos devaneios de Tár. Mas somente esses ingredientes não conseguem manter a orquestra afinada. É irônico dizer que um filme sobre uma musicista possui quase nenhuma trilha sonora, mas isso acontece em Tár. Somente em cenas onde há a presença de um instrumento musical, escuta-se algo que não seja a voz dos atores.
Longa-metragem foi indicado em 6 categorias do Oscar 2023, entre elas Melhor Filme e Melhor Fotografia | Foto: Reprodução
Apesar de ser algo mínimo, já é o bastante para deixar o filme monótono. Não somente isso, mas a criação de diversas tramas, que no fim não possuem nenhuma relação entre si, não contribuem para levar o filme a algum lugar compreensível para o público que o vê. Além da multiplicidade de enredos, a lentidão com que eles são contados e a duração do filme (que chega a quase três horas) prejudicam os pontos fortes da obra, fazendo com que pareça mais um filme restrito para pessoas de alto nível intelectual. Essa restrição impede até mesmo a compreensão total do que o filme tem a dizer, ao procurar um meio de responder a pergunta: “é possível separar a obra do autor?”. Tár não responde essa pergunta, já que termina como todos os casos de cancelamento acontecem, em que uma parcela da sociedade ignora a existência dos atos reprováveis e outra se mantém totalmente contra a pessoa.
O filme, em síntese, parece inacabado e mal desenvolvido. Os momentos de tensão não conseguem se sustentar na composição grandiosa de Field, apesar dos grandes esforços de Cate Blanchett. Tár é uma orquestra onde poucos mantêm-se afinados e no ritmo, deixando uma sonoridade difícil de escutar e com necessidade de reparações.