Filmes com temática de guerra não são novidades no grande catálogo de indicados ao Oscar anualmente. Na verdade, o gênero já é tão frequente que virou um clássico, e está na mesma categoria de biografias quando se trata das indicações. A aposta de 2023 é “Nada de Novo no Front”, filme alemão dirigido por Edward Berger. Com um fôlego bem-vindo e narrativa envolvente, o longa demonstra que merece seu espaço.
“Nada de Novo no Front” é uma das adaptações do livro de 1929 de mesmo título escrito por Erich Maria Remarque. O longa acompanha Paul Baumer, adolescente alistado para lutar durante a primeira guerra mundial. Para quem não está familiarizado com a obra que inspirou o filme, é possível imaginar que a narrativa siga a mesma estrutura de tantos outros filmes de guerra lançados anteriormente, com histórias de heroísmo e patriotismo e menções aos horrores dos conflitos que, muitas vezes, ficam em segundo plano. O que acontece, na verdade, é uma exploração intimista da mentalidade de um soldado que, por trás do uniforme, não passa de uma criança.
É complicado definir o momento em que um filme deixa de ser uma história de guerra e passa a ser uma narrativa antiguerra. “Nada de Novo no Front” é um bom exemplo. Geralmente, filmes que se propõem a levantar um questionamento sobre a moralidade da guerra – se é que, atualmente, esse questionamento ainda exista – caem em alguns dos estereótipos que fazem com que, na realidade, a mensagem passe a ser patriota e saudosista. Filmes com grandes heróis, arcos de redenção e dramatização de mortes criam um visual muito mais trabalhado e, digamos, “bonito”, do que a realidade demonstra. Berger toma o caminho inverso e coloca na tela as imagens mais desastrosas e sujas que alguém possa aguentar.
Paul Baumer começa como muitos dos personagens que já conhecemos. Um jovem encantado pelo conceito de servir o país e fazer parte de uma grande guerra, enfrentando horrores com a coragem necessária para sobreviver. O longa escolhe abordar ainda mais profundamente as descobertas de uma alma perturbada, mergulhando no íntimo da mente de Paul enquanto a tragédia de sua vida em serviço começa a ficar cada vez mais clara. Ao se deparar com mortes de amigos e desconhecidos e com a fragilidade da vida humana, Paul questiona suas decisões e o patriotismo que preenchia seu coração.
O longa faz um bom trabalho, inclusive, ao mostrar as mortes causadas pela guerra. Ao invés da dramatização constante, alongando mortes de personagens e as tornando memoráveis, “Nada de Novo no Front” é simples e direto. Há muita realidade em demonstrar a rapidez com que uma vida vai embora em um cenário catastrófico e construído exclusivamente para causar o maior número de mortes possível. Personagens, com nomes ou sem, viram meros números, corpos empilhados e esquecidos. Alegrias, memórias e desespero viram roupas jogadas fora ou reaproveitadas.
Ao terminar a obra, é possível compreender exatamente o que significa antiguerra. A guerra não dá espaço para personagens, nem para que a individualidade seja valorizada. Não há tempo para reflexão quando nem a sobrevivência é garantida. “Nada de Novo no Front” demonstra que, mesmo em filmes com personagens definidos e reconhecidos pelo público, suas vidas não valem. A guerra não forma mártires, mas assassina adolescentes e suas histórias e esperanças. No fim do dia, vidas são perdidas e resumidas a sangue. No fim do dia, o país pelo qual esses jovens desesperadamente lutaram não lembra de seus nomes. No fim do dia, não há nada de novo no front.