Por Iolanda Lima
Dirigido por Domee Shi, vencedora do Oscar por “Bao”, “Red, Crescer é uma fera” foi lançado em março de 2022 com a premissa de ser uma história contagiante e sensível. A animação se passa nos anos 2000, no Canadá, onde uma família de origem chinesa mantém suas tradições culturais na cidade de Toronto. Meilin é uma garota de 13 anos que tem sua vida dividida pelos costumes familiares e pelas suas amigas de escola. Ao mesmo tempo, passa pelas turbulências de ser uma adolescente.
A menina acorda certo dia com o poder de se transformar em um grande panda gigante, que é totalmente influenciado pelas suas emoções. A habilidade é geracional. Todas as mulheres da família já se transformaram no animal. Porém, escolheram prender a fera interior para evitar problemas.
O grande panda vermelho
O panda pode ser visto como uma metáfora para a menstruação ou para o trauma geracional. Depende de como o espectador vê a situação. As matriarcas da família seguem um padrão de comportamento com suas filhas baseado na repressão e respeito. Ao mesmo tempo, o ciclo menstrual mexe com o lado emocional da menina. A forma como Meilin é pressionada a prender seu panda mostra o poder familiar sobre as decisões, mesmo que a garota escolha continuar com o animal.
Mãe e filha
A animação tem o cuidado de não deixar a mãe da menina, Sun Yee, como a vilã da história, mas sim como mais uma das afetadas por aquela linha geracional, em que, no final, todas as mulheres escolhem ajudar Sun. A relação de mãe e filha acaba se desenvolvendo ao longo do filme e Sun, aos poucos, depois de alguns atritos, vai entendendo os gostos da filha e a importância do seu grupo de amigas. Apesar da mãe pressionar a filha, Meilin gosta de ajudar sua mãe e, sobre sua ancestralidade, não tem problemas em se identificar como descendente chinesa.
A animação
A respeito do aspecto técnico e artístico da animação, o filme tem muitas cores e foge do realismo cartunizado, deixando claras as referências aos animes japoneses. Além da quantidade de pequenos detalhes, que deixam rica a animação, como a inclusão de crianças com diabetes – e o adesivo de insulina – ou até mesmo a forma como a pelugem do panda é construída. As cores escolhidas contribuem para a construção do ambiente adolescente e da temática chinesa do começo dos anos 2000.
Quando lançado, ocorreram reclamações sobre como o filme acaba se tornando banal ou muito colorido para um tema pesado. Contudo, a produção teve o cuidado de não deixar o estilo interferir no desenvolvimento das discussões e temas sensíveis
É aí que “Red” conquista o público infantil e adulto, como já fez em “DivertidaMente” e “Soul”, no cuidado ao tratar de assuntos difíceis com crianças, mas que ao mesmo tempo atingem o público adulto com questões reflexivas.