As transformações comportamentais em tempos de redes digitais criaram uma espécie de perfis variados no País, que circulam nos mais inusitados espaços sociais. Agora, está em alta o ‘abestado verde amarelo’. Na versão 2022 do elemento, trata-se de alguém obcecado por propagar desinformação em redes sociais, seja em grupos familiares, contatos de trabalho, amigos, vizinhos ou clientes de oferta de serviços terceirizados.
O elemento ‘abestado em verde amarelo’ não é exclusividade de nenhuma região ou estado da federação, mas é mais frequente ao Sul do Ecuador (escrito assim mesmo, em versão ‘portunholada’). Não se pode dizer que seria inocente útil por duas razões óbvias: não é uma pessoa inocente e tampouco se confirma, ao menos até o momento, eventual utilidade ao interesse coletivo.
Há uma insistência nos seguidores das seitas entre as duas cores de que mais correto seria falar na ‘galera amarelada’, uma vez que a camisa vendida (na maioria dos casos, pirateada sem direito comercial) pela associação futebolística se tornou quase que um uniforme dos adeptos. A outra versão alega que a bicoloridade seria marca de bandeira e, pois, melhor representaria a crescente nuvem de abestados.
Fato é que o ano de 2022 avançou na adesão ao fenômeno, seja pela apropriação da bandeira em suas mais variadas situações ou pelo saque eleitoral que se tentou aplicar na maioria de pobres, colando as cores a outros abestados que se postulam na turba como messias, especialistas em gastar dinheiro dos outros.
O que chama atenção no décimo primeiro mês do calendário é que a presença de abestados em espaços públicos – ocupando-se com rezas das mais variadas espécies e entonações desafinadas do hino pátrio ao longo do dia –, ainda que a quantidade não seja lá tão expressiva, se tornou rotina em diversas cidades da federação.
E, pois, nos Campos Generais não haveria de ser diferente. Por aqui, algumas dezenas de seres pintados ou vestidos de verde/amarelo circulam diuturnamente em avenidas, alguma praça ou pista rodoviária como se estivessem em missão extra (terrena ou aleatória), focados em aparelhos móveis que partilham boatos, inverdades e ilusões sem a menor probabilidade lógica de se materializar.
Breves sondagens de estudos indicam que a média de abestados e abestadas cresce também na região, pois entre eles pode-se encontrar desde assessor parlamentar custeado pelo dinheiro público, crentes que reverenciam deuses que silenciam diante da morte, alguns coronéis sem farda conhecidos em lidas campeiras e até mesmo representantes das ilustres associações medievais e clubes tradicionais na defesa da desigualdade social às custas da maioria de pobres.
Como se vê, por aqui, ousa-se inclusive a pensar que os nossos abestados e abestadas já seriam quase melhores que os dos outros. Afinal, estão, aí, sentindo na pele o vento da altitude campeira ao vivo e em cores. E isso, goste-se ou não, é importante entender, pois eles estão por aí.
* Jornalista e professor, que testa algumas crônicas em raros momentos vagos. E-mail: slgadini@uepg.br