Na última sexta-feira (13), a banda Hoovaranas subiu no palco do auditório B do Cine Teatro Ópera para a primeira apresentação ao vivo das músicas do álbum “Alvorada”, lançado este ano. O show foi bem recebido pela plateia, que aplaudiu em pé e fez com que os músicos voltassem ao palco para tocar uma última música antes de se despedirem. O show foi marcado pela intimidade da banda com o público e a recepção calorosa daqueles que já conheciam ou não a Hoovaranas. Entre uma música e outra, aplausos e elogios preencheram o auditório.
Hoovaranas é uma banda pontagrossense de música instrumental formada pelo baterista Eric Santana (22), pelo baixista Jorge Bahls (19) e pelo guitarrista Rehael Martins (19). Os músicos já lançaram dois álbuns completos: “Poluição Sonora”, de 2019, e “Alvorada”, de 2022, além de um EP lançado durante a pandemia do coronavírus, em 2020, intitulado “Isolamento”.
Além da recepção do novo álbum, o trio se destacou neste ano ao ser incluído em uma playlist criada por um jornalista da Rolling Stone francesa. Além dos projetos lançados, os integrantes também contam com um projeto de improvisação, o Trio Baraúnas.
Um dia antes da apresentação no Cine Teatro Ópera, na quinta-feira (12), os integrantes da banda concederam uma entrevista para o Cultura Plural, onde falaram sobre suas lembranças, o processo criativo e a relação com o público.
Como a Hoovaranas começou?
JORGE: Eu e o Rehael nos conhecemos na escola. Eu comprei um baixo e o Rehael me chamou para tocar com ele, na brincadeira. Na influência da coisa, conhecemos o Eric. A gente tirava uns improvisos na minha casa, e decidimos formar uma banda.
ERIC: Eu, o Rehael e outro amigo tínhamos um projeto instrumental. Um dia, nosso amigo não conseguiu ir, e o Jorge tinha comprado um baixo dele. Como ele já estava tocando baixo e já conhecia o Rehael, nós chamamos ele para tocar. Rolou uma baita conexão, então continuamos tocando juntos.
E a ideia da música instrumental, como surgiu?
ERIC: A princípio, a gente procurou um vocalista, mas não encontramos ninguém que se comprometesse e que fosse compatível com a banda. Então, decidimos fechar o projeto instrumental, já que era uma coisa da qual a gente gostava muito e era bem diferente.
REHAEL: A gente nem escutava tanto som instrumental. Muitos artistas que tocam música instrumental no Brasil têm várias influências e por isso decidem produzir esse tipo de música. A gente só era instrumental porque não tínhamos vocalista, e no final, acabou dando muito certo!
O que vocês lembram da primeira vez que tocaram oficialmente como a Hoovaranas?
ERIC: Quando tocamos pela primeira vez com o Jorge, foi algo aleatório. O primeiro show que a gente fez com o projeto já estabelecido foi no DCE-UEPG, em uma festa do curso de Geografia, em 2018.
REHAEL: A gente fez tudo no improviso, com só uma música fechada e um riff do Black Sabbath.
JORGE: Essa foi a primeira vez que a gente tocava oficialmente, e só temos uma foto desse dia, mas parece que ela foi tirada usando uma batata (risos).
O que mudou desde o começo da banda até agora?
ERIC: Quando a gente começou, tinha artistas e estilos que a gente ouvia e acabaram influenciando nosso som. O Poluição Sonora é muito mais pesado, mais cru. Depois disso, tocamos com muitas bandas em várias cidades e acabamos sendo influenciados por coisas novas. Acho que mudamos drasticamente nosso gosto musical, e expandimos nossos horizontes.
REHAEL: A gente já achou para qual caminho queremos ir com o nosso som. Claro que ainda vai se transformar um monte, mas das músicas antigas para cá a gente mudou muito, até tecnicamente. Da época até agora, criamos muito mais liberdade de criação e improvisação.
JORGE: A gente aprendeu que dá pra fazer muito mais do que a gente ouvia. Antes, eu curtia muito mais rock, e hoje em dia curto mais jazz, e isso acaba misturando uma coisa com a outra e criando um estilo próprio. Ficamos muito mais maduros em questão de sonoridade.
Como vocês chegam no nome das músicas, considerando que elas não têm letra?
ERIC: É mais pelo sentimento, pela sensação que a música passa.
JORGE: Tem vários exemplos. Como “Mantra”, que tem esse nome porque fica se repetindo. Mas o significado vai mudando de pessoa para pessoa. “Ressaca”, para mim, tem o significado de ser a ressaca do mar, mas muita gente acha que é ressaca de bebida (risos).
Quando vocês sentiram o reconhecimento do público?
JORGE: Acho que o reconhecimento quase sempre rolou por conta da gente ser uma banda que, de alguma maneira, representa o bairro de Uvaranas. O streaming também ajudou. Por ser instrumental, isso já quebra a barreira da linguagem, e a internet alcança lugares que a gente nem imaginava. Pessoas de mais de 50 países já nos escutaram, e a gente nem sabe como isso aconteceu.
ERIC: A galera sempre ficou meio surpresa. Quando a gente começou, eu era o único maior de idade, então as pessoas reparavam no som que a gente estava fazendo, que era instrumental, psicodélico, diferente… Isso com certeza influenciou muito. As pessoas chamavam a gente para tocar em festivais quando só tínhamos um ano de banda.
Como surgiu a necessidade de separar a Hoovaranas do Trio Baraúnas?
ERIC: Gostamos de ter um planejamento de não tocar a mesma coisa muitas vezes na mesma cidade. Uma hora ia ficar chato a Hoovaranas, com músicas prontas, tocando toda semana nos mesmos lugares. Decidimos fazer esse projeto de improvisos para que conseguíssemos rodar pela cidade com mais frequência para que conseguíssemos nos sustentar. Já que a gente vive de música, não rolava ficar esperando um mês para tocar com a Hoovaranas de novo.
Quais são as expectativas da banda para o futuro?
JORGE: Além dos shows, esperamos continuar produzindo e não parar, fazer mais músicas. Esperamos conseguir ir para fora. Por ser instrumental, para a gente é muito importante ir para outros países. Queremos entrar em festivais de música que combinem com a gente, além de editais, que nos ajudaram muito na pandemia.
REHAEL: Acho que o próximo álbum vai soar diferente desse. Nenhum dos nossos trabalhos é igual, e isso é muito legal.
A Hoovaranas se prepara agora para a turnê que apresenta o álbum “Alvorada” para diversas cidades brasileiras. Durante os meses de maio e junho, o grupo fará shows em cidades paranaenses, como Maringá e Curitiba, além de cidades de outros estados, como Santa Catarina e São Paulo.