Por Cultura Plural
Desde 2003, o Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa, Fenata, saiu dos palcos tradicionais e foi ao encontro do público em espaços alternativos. A Mostra Especial foi criada pelo Grupo Teatral De 4 no Ato, do Rio de Janeiro, que participa até hoje do Festival. Nesta categoria, os palcos são improvisados em creches, escolas, Parque Ambiental, Calçadão, terminal de ônibus, hospitais, asilos e, pela primeira vez, no presídio.
Uma das atrações da edição de 2011 foi o cordelista Edmilson Santini, nascido em Pernambuco e que hoje mora na capital fluminense. Segundo Santini, o objetivo do Teatro em Cordel é transmitir informações sobre a cultura popular. O pano de fundo é a educação, mas sem esquecer a diversão e o lazer.
A coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Santa Maria e do Centro Estadual de Educação Profissional, CEEP, Taíze Krema, conta que muitos alunos não têm acesso ao teatro e o Fenata faz essa aproximação. “Os alunos não têm este conhecimento e com essas peças eles ficam mais próximos da arte. Só na sala de aula não consegue transmitir toda a riqueza da nossa cultura”, explica.
A apresentação de Teatro em Cordel de Edmilson Santini passou por sete escolas, pela UEPG – Campus Uvaranas, Calçadão da Coronel Cláudio, Terminal Central, Parque Ambiental e Penitenciária Estadual de Ponta Grossa. O total foi de 16 espetáculos entre os dias quatro e oito de novembro. O público ultrapassou 1800 pessoas.
Na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, 25 presos do regime fechado acompanharam a peça, que teve muita música em forma de cordel. O repente mais aplaudido foi sobre a vida do trabalhador brasileiro (confira o vídeo no Palco Virtual).
O vice-diretor da Penitenciária, Bruno Propst, explica que esta foi a primeira apresentação artística dentro do presídio desde que ele foi inaugurado, em 2003. Segundo Bruno, “esta ação é muito válida, pois temos que trazer os presos de volta para a realidade e este contato com a arte contribui para a re-socialização deles”.
As peças são inspiradas nos folhetos de cordel escritos e vendidos pelo próprio Edmilson Santini. Cada folheto com uma história custa R$ 3. A xilogravura, desenho feito com madeira e impresso nos folhetos, são de autoria de seus amigos, como Ciro e Erivaldo.
O Teatro em Cordel não tem um público específico indicado. A cada apresentação, as histórias são encaixadas conforme a faixa etária, e o modo de contar também se transforma. Além disso, algumas histórias são encenadas por pessoas escolhidas no meio do público.
O estudante da quinta-série do Colégio Estadual Santa Maria, Jonas Manuel, ficou entusiasmado com o cordel, que conhecia apenas da novela da Rede Globo (Cordel Encantado). “Foi muito bom. Gostei bastante da apresentação, mas não sei se consigo fazer rimas igual a ele”, conta.
Apesar das histórias mudarem, um verso é sempre repetido por Santini em todas as suas apresentações:
“Cordel que serviu à alfabetização
Em tempos anteriores
Hoje serve à educação
Para tempos posteriores”
Reportagem por Eduardo Godoy