Por Cultura Plural
Entrevista: Nadine Sansana
Edição: Jessica Grossi e Matheus Gaston
A entrevista com Antônio Lourival dos Santos foi realizada em junho de 2019, na Rádio Princesa, em Ponta Grossa, pela estudante de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Nadine Sansana, como parte da sua pesquisa de iniciação científica.
Santos nasceu em 1953 no município de Ivaí. Iniciou seus trabalhos como locutor no rádio em 1982, em Ponta Grossa. Passou pela Rádio Sant’Ana, Rádio Central, Rádio Clube, Difusora e pela rádio comunitária Princesa. Mais conhecido como Lourival Graxaim, o radialista trabalha, atualmente, na Rádio T.
Onde e quando começou a trabalhar? Quais eram as condições de trabalho? Quais eram as dificuldades com relação aos equipamentos?
Estou com 66 anos de idade. Eu vim para Ponta Grossa com 12. No começo, quando ainda estava no sítio, eu ia para a escola e depois para a roça. Lá na roça, eu lembrava das rádios, porque eu ouvia rádio. Era garoto, tinha uns sete ou oito anos e ouvia a Rádio Difusora de Ponta Grossa, de Guarapuava. Com isso eu fazia um programa na cabeça, na minha ideia eu já tinha que um dia seria radialista. Fui para a cidade e comecei a tocar em programas de rádio aqui em Ponta Grossa, viajando para o interior tocando em festa e em baile. Em 1982 comecei no rádio e estou até hoje. Vivo do rádio, isso aqui é a minha vida.
Antes de começar no rádio, eu era músico. Comecei como músico, viajava tocando em baile, em festa. Comecei com a minha dupla, cantando nas rádios. A primeira rádio que eu conheci foi a Rádio Difusora. Hoje é FM, mas antes era AM. Comecei na Central em 1982. Em 1980, comecei a aprender o rádio. Comprei o horário na Rádio Central, aos domingos, das 6 às 8. O Nilson de Oliveira, que era da Difusora, foi para a Rádio Central do Paraná e como eu estava lá, pensei que a partir daquele momento estaria fora do rádio. Pelo contrário, ele me chamou em 1982 e me registrou em carteira. Nunca mais saí do rádio. Daquele momento, passei a ser profissional do rádio. Aqui na Rádio Princesa faz oito anos que eu estou. Aqui faço um programa diferenciado para todas as classes. E hoje em dia todo mundo ouve rádio: adulto ouve rádio, criança ouve rádio, jovem ouve rádio. Então faço um programa bem clássico, levando música raiz, música gaúcha, música universitária. E também informações que o povão que levanta cedo e que gosta do rádio quer ouvir. Informações sobre o que está acontecendo na cidade. Então é um programa bem variado, levando aquilo que o povo gosta e também aquilo que é de utilidade pública, porque até nota de falecimento eu trago. Tem um quadro que eu apresento em homenagem aos caminhoneiros e também tem a cotação do mercado agrícola, o horário que faço é voltado para o homem do campo. Como eu vim do campo, da lavoura, do sítio, homenageio o homem do campo. Já estou com trinta e poucos anos no rádio, mas continuo porque eu gosto muito do rádio. Minha segunda família, depois de casa, é o rádio.
Como foi a sua trajetória pelas rádios aqui em Ponta Grossa?
A Rádio Central foi a primeira rádio que eu comecei a minha vida profissional. Eu tocava no programa dele [Luiz Alberto, Nhô Jeca, que já é falecido], aos domingos com a minha dupla. Teve uma vez que ele foi para o Rio de Janeiro, ficou um mês lá e eu assumi o programa dele. Só dando a hora certa e apresentando os cantores. A partir daquele momento, eu comecei a gostar do rádio. Ele voltou e eu entreguei o programa pra ele e continuei participando como músico. Em 1982, o Nilson de Oliveira veio para a Central e me registrou em carteira. Trabalhei na Rádio Sant’Ana, na Rádio Central, Rádio Clube, na Difusora, fiquei 20 anos trabalhando na Rádio Difusora, cheguei a me aposentar na Difusora, mas continuo trabalhando até hoje no rádio.
Quais as diferenças dos equipamentos da época quando o senhor entrou trabalhar no rádio para os dias de hoje?
No começo, eu trabalhava na rádio AM. Hoje em dia é tudo FM na cidade. Na AM tinha só o locutor e o operador de som. Eu comecei a praticar, chegava cedo na rádio. Já que o operador nunca chegava na hora certa, eu decidi a aprender a mexer na mesa e hoje eu opero a mesa e faço tudo: opero a mesa, faço locução, tudo sozinho. Tenho três horas de programa diário, eu que apresento o programa e opero a mesa, não dependo de operador. Quando comecei no rádio, não tinha computador, era difícil, então era só a mesa e o gravador de fita de rolo. Hoje em dia não, você tem o computador, você tem tudo. Você digita ali e já aparece todos os comerciais, o mapa de programação, tudo o que você precisa, então é mais tranquilo. Só que tem que aprender a fazer locução, fazer a mesa e administrar tudo ali.
Na sua opinião, qual é a função social do rádio?
O brasileiro não vive sem rádio. Hoje em dia você está no rádio, a pessoa te ouve, ela não te conhece e ela tem aquela curiosidade de te conhecer. A televisão você liga e já vê a imagem da pessoa e reconhece. O rádio você liga e tem curiosidade de conhecer o locutor, a pessoa que está apresentando o programa. O rádio te traz informações, te traz músicas, diversão, utilidade pública, então é uma relação completa. Acho que todo mundo gosta de rádio. Todas as classes ouvem. Até para o comércio ele também é muito importante, faz 30 anos que tenho anunciantes grandes na cidade.
Qual a diferença da participação do público de antes para agora?
Antigamente o pessoal participava mais por cartinha. Nos anos 80, na outra emissora, eu recebia muita cartinha e o pessoal ligava bastante no telefone da rádio. Agora, hoje em dia, é mais pelo WhatsApp mesmo. O pessoal, às vezes, vem aqui na rádio pra pedir pra divulgar algum evento, festa, aniversário. As pessoas vêm participar e eu direto recebo pessoas no meu programa, conversamos, fazemos entrevista.
Como foi sua experiência no processo de transição da AM para FM?
Eu estava trabalhando na Rádio Difusora. Ainda era AM. Em janeiro de 2011 saí da Difusora e em fevereiro já estava na Rádio Princesa. A transição do AM para o FM pra mim foi normal, porque eu há muito tempo trabalho com isso. Antes da Princesa, eu trabalhei na 94 FM, foi em 1997/98 por aí, trabalhei na Lagoa Dourada, que hoje é a Rádio T, que também já era FM. Então a Princesa é a terceira FM que eu estou trabalhando, já tinha experiência.
A série de entrevistas com profissionais que atuaram e atuam no rádio ponta-grossense é fruto do trabalho da estudante Nadine Sansana, orientada pelo professor Sérgio Gadini, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vigente entre os anos de 2018 e 2019. Sob o título Memórias de vida e trabalho na mídia regional dos Campos Gerais do Paraná, o projeto contribui com o acervo memorialístico radiofônico da cidade, tendo em vista a ausência de arquivos, registros e documentos sobre a história do rádio em Ponta Grossa.