Por Cultura Plural
Normalmente os cemitérios são associados a sentimentos negativos, como tristeza, dor e perda. Evitados por supersticiosos, apreciados por góticos e, no imaginário popular, frequentados por assombrações e seres de outro mundo. Esses campos sagrados são na verdade espaços destinados a rituais de passagens de todos os tipos de religiões e crenças, que abrigam fragmentos históricos de seus povos.
Em Ponta Grossa há mais de vinte cemitérios distribuídos tanto na área urbana quanto no limite rural da cidade, sendo o São José o mais antigo. Inaugurado em 1881, esse cemitério é conhecido pelas esculturas artísticas e por abrigar figuras ilustres, como o Barão de Guaraúna e Corina Portugal. O que possibilita a prática do turismo cemiterial nos Campos Gerais.
O túmulo de Corina Portugal é um dos mais visitados diariamente. A jovem tornou-se santa na crendice popular após o testemunho da realização de um milagre por uma mulher que era agredida pelo marido. Reza a lenda que essa mulher apanhava constantemente do esposo e um dia ela fez um pedido na sepultura de Corina para que a selvageria parasse. A partir daquele momento o marido se arrependeu e nunca mais lhe tocou. Apesar de a santa ser conhecida na sociedade por proteger quem sofre violência doméstica, atualmente os devotos e o teor dos pedidos que permeiam sua lápide mudaram.
Corina se casou aos 18 anos, era carioca e veio morar com o esposo Alfredo Campos em Ponta Grossa. A diferença de idade e as constantes bebedeiras do marido eram estopins frequentes para altas discussões entre o casal. Corina acabou assassinada com 32 facadas em 1889, vítima de Alfredo, seu esposo. Que para se defender na justiça alegou que o assassinato era motivado pela relação extraconjugal de Corina com João Dória, deputado na época. A justiça acabou absolvendo Alfredo e a inocência de Corina só foi provada anos mais tarde quando João conseguiu publicar as cartas que a jovem enviava a família no Rio de Janeiro, contando a brutalidade que sofria do marido.
Desde então Corina Portugal ficou conhecida por atender aos pedidos de mulheres que eram vítimas de violência doméstica. A Igreja Católica não a reconhece como santa, no entanto, devotos surgem de várias partes da cidade para rezar, acender vela e fazer ou agradecer graças alcançadas e já preencheram quase toda a lápide com inúmeras placas de agradecimento.
Reportagem de Gisele Manjurma