Por Cultura Plural
Com o objetivo de fazer artesanato tipicamente ponta-grossense, Odete de Paula e Vanderli Santos trabalham nas terças e quintas-feiras em uma sala comercial do Edifício Princesa, no centro de Ponta Grossa. A especialidade das artesãs é o trabalho com palha de milho, que resultam em pássaros, flores, presépios e outras peças, produzidas com um cuidado impressionante. O grupo é formado ainda por mais três artesãs, que trabalham em casa.
“O que nós queremos é que nosso trabalho seja reconhecido como algo típico da cidade e dos Campos Gerais, porque em outros lugares é difícil encontrar este artesanato com palha de milho e pinhão”, conta Vanderli. Segundo ela, o aprendizado para lidar com a palha começou sem grandes pretensões, no entanto, ganhou ares de arte quando começaram a vender na Casa do Artesão, que tem lojas na Praça Barão do Rio Branco e no Parque Estadual de Vila Velha. “As pessoas começaram a vir aqui e encomendar peças para levar para outras cidades e até outros países”, diz empolgada a artesã.
Segundo ela, o trabalho é intenso. “O começo é nos sítios da região, onde procuramos os materiais usados na fabricação do artesanato, como madeiras, pente-de-macaco, cipó, porunga, sementes, flores”, explica. Ela diz também que muitas pessoas começam a aprender o artesanato, porém desanimam quando percebem todo o trabalho de procura de materiais. “Às vezes vamos longe para buscar nossa matéria-prima, como em Conchas ou Alagados, além de sítios em outras cidades também. Passamos o final de semana fazendo isso”, relata. Já a palha de milho é conseguida com feirantes, na Feira do Produtor.
O produto mais fabricado e mais vendido são os pássaros, que são introduzidos em pinhões e colados em imãs. Todo pinhão usado é recolhido na sua época (de março a junho). Depois, as artesãs começam o trabalho minucioso: abrem a semente, retiram o fruto (a parte comestível) e colocam para secar, podendo trabalhar com ele durante todo o ano. Os pequenos pássaros feitos com palha de milho são, então, colocados dentro do pinhão, que depois recebem um imã atrás, servindo de objeto decorativo, com ‘sotaque’ paranaense. Na Casa do Artesão, o produto é vendido a três reais.
Um dos diferenciais do artesanato produzido pelo grupo é a inserção das lendas de Ponta Grossa. Em peças decorativas que têm o cunho de ‘lembranças’, as artesãs colocam pequenos papiros com as histórias que geraram aqueles produtos, como a lenda das pombinhas com fitas vermelhas amarradas aos pés (que determinaram onde seria erguida a capela de Sant’Anna, fazendo surgir a cidade em volta do local) e a lenda de Vila Velha, com a história do índio Dhui e da índia Aracê.
As artesãs recebem também encomendas de peças. Entretanto, já avisam que não vão ficar iguais aos modelos. “É impossível uma peça ficar igual à outra. Às vezes as pessoas trazem aqui um modelo e pedem para que a gente faça igual. Não vai ficar igual! Os materiais são diferentes, únicos. E essa é a essência do artesanato”, conta Vanderli.
Reportagem de Eduardo Godoy e André Luiz Lungarezi