Por Cultura Plural
Limitações não faltam para os artistas locais. De acordo com Graciana Moreira Justo, participante do inativo Grupo de Dança Paralela, o que faltam são espaços para criação e apresentação. O incentivo é substituído pela cobrança de taxa em espaços públicos para exposições e a divulgação é ineficaz. A maioria deles não consegue viver somente da arte. Quando se finaliza uma obra, o artista parte para a busca de algum lugar ou edital para viabilizar a exposição, vínculo fundamental com o público.
“Para divulgar as minhas obras participo de editais”, conta a artista plástica Angélica Eloá Ribeiro. Há falta de apoio também quando não se abre espaços para apresentações e exposições que divulgariam e ajudariam no trabalho local. Assim, muitos artistas de Ponta Grossa ficam atentos a editais ou até mesmo locam espaços, como é caso de Angélica.
De acordo com o assessor de imprensa da Fundação de Cultura, Eduardo Godoy, “é o produtor cultural que solicita a locação ou cessão dos espaços”. Quem deseja utilizar os espaços disponíveis no Cine-Teatro Ópera ou no Centro de Cultura (atualmente interditado), tem que pagar uma taxa para reserva e utilização, que varia com o tipo de contratante e de evento.
O contexto aponta que poucos artistas foram convidados por algum órgão público municipal para falar sobre arte, expor suas obras ou até mesmo fazer algum show. Mesmo para a reabertura da Estação Arte, que aconteceu no dia 23 de abril, não teve nenhum convite oficial para o Grupo que se apresentou, “A ideia surgiu do próprio grupo, pois essa data [aniversário do músico Pixinguinha] é comemorada por vários músicos em diversas cidades do Brasil, com várias rodas de choro. Então eu entrei em contato com a Fundação de cultura e pedi um apoio pra realizar a apresentação, eles cederam o lugar e o som. Foi algo pra gente celebrar mesmo, sem receber dinheiro em troca, apenas pra mostrar e fazer o que a gente gosta e acredita que deve ser valorizado e mantido”, conta Nicolas Pedroso Salazar, integrante do Grupo Novos Malandros.
Nicolas ainda ressalta que o apoio é raro e que a facilidade para o uso do local foi uma surpresa para ele e para o grupo. Em geral, Ponta Grossa ainda carece de muita coisa, e o músico aponta o caso do Conservatório como prova disso. “Veja o descaso que esta acontecendo com o conservatório, os alunos já perderam o primeiro semestre de aula neste ano e ninguém sabe o real motivo.” O Conservatório não retomou as atividades em 2015 e um dos motivos é a falta de contratação de professores.
A Fundação divulgou ainda que em poucos dias estará aberto um edital para os grupos de teatro que queiram se apresentar no Cine-Teatro Ópera nos próximos meses. O objetivo é incentivar a divulgação dos espetáculos promovidos pelas companhias de teatro lacais.
Cenário dos Espaços Culturais em PG
O Centro de Cultura foi interditado no dia 28 de fevereiro deste ano devido a problemas na estrutura do teto, que está totalmente degradado, uma vez que desde o restauro do prédio não foi feita nenhuma manutenção de reforma. Um laudo da Defesa Civil, a pedido da própria Fundação, determinou que o imóvel fosse interditado imediatamente para que os reparos e a troca do telhado e das vigas fossem feitos o quanto antes. O Centro foi inaugurado no dia 15 de setembro de 1988 com o propósito de servir como espaço cultural, e até hoje funciona como um dos principais locais para exposição de fotos, pinturas e até mesmo de objetos pessoais históricos ou artísticos. Construído em 1907, o prédio mantém características da arquitetura da época.
A Estação Arte também vai passar por reformas. O Instituto de Pesquisa e Planejamento de Ponta Grossa (Iplan) está criando o projeto para o Centro de Convivência Cultural Estação Arte, que deverá ter um café e estrutura necessária para exposições. Mesmo assim, o espaço já está sendo utilizado para atividades culturais.
O lugar, que faz parte da história de Ponta Grossa, com a ferrovia e a era da Maria Fumaça, foi construído em 1896 e reformado em 1910, após um incêndio que comprometeu parte da estrutura. Já em alvenaria, o ponto foi sede do Armazém da Estrada de Ferro do Paraná até a década de 1970, funcionou como espaço cultural entre os anos de 1996 e 2007, como Mercado da família de março de 2008 até a sua desativação no começo de 2015 e agora volta a funcionar como uma oportunidade de reunir, assim como em outros espaços da cidade, a arte local e regional. Surgindo como uma esperança de boa estrutura para assumir a responsabilidade de comportar as manifestações culturais da cidade.
Ponta Grossa possui atualmente cerca de 20 espaços que podem abrigar exposições. Shopping Palladium, galeria da PROEX, prédio da OAB, Centro de Música, Centro de Cultura, Conservatório, Mansão Villa Hilda, Galeria João Pillarski e Espaço Cultural da Câmara Municipal, são alguns dos lugares mais citados na pesquisa feita em abril de 2015 sobre o cenário cultural da cidade e os lugares disponíveis para a exposição e divulgação dos artistas locais. Para música e teatro o número tende a aumentar e inclui, principalmente, espaços ao ar livre como o Parque Ambiental, Calçadão e Concha Acústica.
Reinauguração na malandragem
Alternando entre batidas com as mãos, movimentos com os pés e danças tímidas, o grupo Novos Malandros reinaugurou a Estação Arte em um dia memorável para o Choro brasileiro: o aniversário de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o famoso e saudoso Pixinguinha.
Os improvisos com cadeiras plásticas, mesa de bar para o som e as janelas interditadas com grades eram elementos que denunciavam a estrutura pouco satisfatória do lugar que, para um espaço onde grande parte das atividades vai acontecer, ainda não está preparado para acolher tal sequencia de eventos. O Nicolas é flautista e saxofonista do grupo e comenta que felizmente não tiveram dificuldades, pois tinham o que precisavam. Ele ressalta que o lugar não está 100% adequado para uma apresentação musical, porque faltam cadeiras, isolamento contra os ruídos de fora, e outras características que são necessárias em uma boa apresentação, e que o ideal seria restaurar, mas que “cada grupo tem uma necessidade diferente”.
Embora ainda pouco apresentável, a Estação Arte acolheu cerca de 90 pessoas no dia 23 de abril. Com mais de uma hora de apresentação, entre uma batida e outra, as músicas foram tirando a timidez do público que começou a fazer suas próprias rodas de samba e dançar ali mesmo, no improviso. “A atenção do público também foi legal e importante pra gente, pois nem todo mundo tem o costume e a paciência de apreciar a música instrumental. Enfim, foi muito positiva, pois esperávamos um público menor”, conta Nicolas.
Reportagem de Karin Del Nóbile