Por Cultura Plural
A história registra a existência de três monges que percorreram os estados da região Sul do país em épocas diferentes, dando origem à crença em ‘São João Maria’. Eles estavam sempre envolvidos em contextos sociais de relevância, realizavam pregações e milagres através das ervas e da água benta.
Pelos registros históricos, sabe-se que o primeiro monge, João Maria de Agostini, passou pelos estados do Sul no período da Guerra dos Farrapos, por volta de 1840. O segundo monge, João Maria de Jesus, deixou muitos registros nos estados do Sul, em especial no Paraná, no final do século XIX, no período da Revolução Federalista. A fé popular acreditava se tratar do mesmo indivíduo e fundiu estes monges em uma única personalidade: São João Maria.
O terceiro monge a pisar em solo paranaense foi José Maria, personagem que esteve à frente da Guerra do Contestado, que envolveu os estados do Paraná e de Santa Catarina no período de 1912 a 1916. O monge morreu no primeiro conflito com as forças policiais, em Irani (Santa Catarina), mas a crença na sua ressurreição continuou a reunir inúmeros seguidores.
As pregações destes monges misturavam a fé religiosa à crítica social, o que fez com que conquistassem grande número de fieis. Em Ponta Grossa, o “monge dos excluídos”, João Maria de Jesus, se instalou em um olho d’água no bairro de Uvaranas, entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX. Os registros são imprecisos, mas dizem os relatos orais que ele teria chegado em Ponta Grossa após ter sido expulso da cidade da Lapa, nos Campos Gerais, pelos chamados ‘coronéis’ da época. A gruta onde o monge viveu, na Lapa, é local de peregrinação até os dias de hoje, no Parque Estadual do Monge, que leva este nome pela fé no santo popular.
Nos lugares por onde passou, o monge deixou marcas como cruzes, olhos d’água e registros na memória da população, que atribui a São João Maria um número incontável de milagres. O eremita realizava orações, batismos, casamentos e benzimentos, representando uma forma de religiosidade popular. Foi desse modo que o olho d’água em Ponta Grossa acabou conhecido entre a população como bento e recebeu o nome de “Olho D’Água São João Maria”.
O monge era conhecido por seu temperamento tranquilo, pelas pregações e por viver junto à natureza. A ele foi atribuída a realização de milagres, e a lenda que permeia a sua existência faz referência a um santo popular que auxiliava a população carente que encontrava no caminho de suas peregrinações.
Quando o monge partiu do olho d’água, as pessoas que o procuravam naquele local passaram a buscar as águas dali por crerem que possuíam poder de cura. Desde então o lugar é frequentado por fiéis que buscam a solução de seus problemas e melhoras para suas enfermidades.
Há cerca de 20 anos a Prefeitura Municipal facilitou o acesso ao lugar, melhorou a infraestrutura e sinalizou as imediações com placas. Uma capelinha foi construída, sem portas e nem janelas, aberta ao público, com entrada franca. O lugar abriga, além de fotos do santo popular, imagens e fotografias de santos reconhecidos pela igreja católica.
Atualmente, aos finais de semana, o Olho D’Água São João Maria recebe cerca de 300 visitantes, atraídos pela fama de milagreiro do santo popular. É o caso da recepcionista Juliane Dorosxi, que fez uma promessa ao santo. “Meu filho estava doente e eu prometi que se ele ficasse bom, eu viria aqui por 10 finais de semanas seguidos acender uma vela em agradecimento”, conta Juliane.
O aposentado João Alaerte de Camargo testemunha a fé em São João Maria e com frequência visita o local para agradecer as bênçãos recebidas. “Tenho fé nele, é como um profeta. Hoje vim buscar um pouco dessa água para levar para minha neta lavar o cabelo que está caindo”, revela o aposentado que antigamente bebia da água do local, mas parou após ser informado de que a água não servia para consumo.
São João Maria habita o imaginário e a fé popular, as águas do olho d’água e a capelinha ao ar livre se transformaram em mais um ponto turístico da cidade e fazem parte da história da peregrinação do monge.
Reportagem de Gisele Manjurma