Por Cultura Plural
Por: Lorena Rocha e Marina Ranzani
Na última quinta-feira (5), uma oficina com o cineasta Bruno Costa reuniu estudantes e entusiastas do audiovisual em Ponta Grossa. Diretor e roteirista de quatro longas-metragens, incluindo a série “Cidade de Deus: A Luta Não Para”, que pode ser acompanhada pelo streaming HBO, o produtor expôs os detalhes técnicos e parte dos bastidores da produção cinematográfica da série. A atividade foi realizada no Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a partir de iniciativa da 1ª edição do Festival Araucária dos Campos Gerais, com programação dedicada à valorização do cinema regional.
O novo longa-metragem do cineasta curitibano Bruno Costa, “Nem toda história de amor acaba em morte”, tem estreia marcada para sexta-feira (13), no Festival Cine PE, em Recife, e na segunda-feira (16), no Festival Olhar de Cinema, em Curitiba. A obra narra a história de um casal que, mesmo após a separação, continua vivendo junto. Explora a autodescoberta da protagonista, uma mulher surda, com a bissexualidade aos 50 anos e seu envolvimento amoroso com uma mulher que passa a frequentar a casa do ex-casal.
Bruno Costa destaca que a integração da produção com a comunidade surda foi um grande diferencial, envolvendo pessoas surdas tanto na equipe técnica quanto no elenco do longa-metragem. Segundo o cineasta, esse processo de aproximação com a realidade da comunidade surda o motivou, inclusive, a aprender Libras para se comunicar com a produção.
“Ainda estamos descobrindo como fazer o filme chegar até a população surda. É uma camada da população que historicamente não era representada e a acessibilidade sempre foi isso: inclusão, se ver representado na tela como personagem”, revela o diretor ao ser questionado sobre a acessibilidade da obra. Ele aponta ser um grande desafio trazer a comunidade surda para o cinema devido à falta de representatividade. Para enfrentar essa barreira, Bruno adiciona o desenvolvimento do trabalho com intérpretes surdos, com aparência e figurinos que se assemelham aos personagens do longa-metragem, garantindo maior imersão junto das legendas descritivas.
O cineasta tem perspectivas positivas na área da cultura audiovisual do Paraná, uma vez que há muitos projetos sendo produzidos; contudo, faz apontamentos sobre o atraso e falta de editais e políticas públicas efetivas. Ele acredita, ainda, que existem muitas pessoas formadas em cinema que querem produzir, porém sem recursos e oportunidades disponíveis, o que faz esse grupo cultural se deslocar para fora do estado.
Dimitri de Souza, discente do curso de Jornalismo que participou da oficina, ressalta a importância do contato direto com quem já atua no mercado. “Foi bem gratificante ouvir alguém que já está inserido no mercado audiovisual brasileiro em uma grande produção”.
Ele considera que esse contato ajudou a preencher lacunas em sua formação. “Eu sempre estudei a linguagem do cinema de uma maneira técnica e semiótica, mas poucas vezes fui atrás de como tudo é feito do ponto de vista da produção”, diz.
O diretor deixa conselhos para quem tem interesse em entrar na área do cinema. “Eu costumo ser bem sincero, não é fácil de entrar, mas a gente tem que buscar todo tipo de conhecimento com a graduação”. Ele conta que foi da primeira turma de cinema, de 2005, e revela que um bom primeiro passo pode ser o coletivo: “juntar pequenos grupos e produzir coisas pequenas, que somando forças fica mais fácil”, relata Bruno.
A oficina do cineasta aproximou os participantes dos bastidores de uma grande produção, apresentando, por meio de diferentes apontamentos técnicos, parte dos processos de produção da direção, roteirização e gravações das cenas cinematográficas da série “Cidade de Deus: A Luta Não Para”. O encontro mostrou que o audiovisual pode ser produzido em diferentes formatos e de que forma é possível conectar teoria e prática, contribuindo para a formação de futuros criadores do audiovisual brasileiro, preparando-os para os desafios do mercado.