Por Sérgio Gadini
Sérgio Luiz Gadini *
O Festival Universitário da Canção encolheu porque ficou local ou se ‘localizou’ porque o evento encolheu, se comparado aos tempos em que a música atraia profissionais e bandas de diversos estados do País aos Campos Gerais? Eis um dilema de uma reflexão ao iminente e pouco animador Inverno de 2024.
O 36º FUC, apesar de agregar (quase) tudo em uma única noite de sábado, parece manter algumas características de evento competitivo, com uma participação local que justifica a aposta e a manutenção do projeto, criado lá em 1980 por ousados colegas do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEPG. Mas, fato inegável é que o evento encolheu demais e pode não ser apenas o efeito da pandemia o principal responsável pelo atual cenário.
Como leitura crítica (e isso é um direito de consumidor/cidadão), vale lembrar alguns aspectos, que precisam ser avaliados, longe de esperados elogios, quando se fala em expressões culturais na Região, em que a crítica praticamente sumiu e resta basicamente divulgação, em geral, gratuita ou voluntária, como se fosse obrigação automática acelerar a tendência de precarização do trabalho em arte, mídia e cultura na Província.
Há pouco mais de 10 anos, o FUC tinha outras características: como esquecer de um evento que começava na noite de quarta, com a etapa regional, tinha mais duas noites de eliminatórias da etapa nacional, fechando com a final no sábado? E isso sem abrir mão de um show a cada noite do evento. Aos amantes da música, a noite ‘alongava o festival’ com apresentações extras de músicos que vinham à Cidade e faziam questão de prestigiar os espaços de bares e rodas que rolavam para além da área central de PG. O FUC também teve transmissão simultânea pela TVE Ponta Grossa, em circuito aberto na Cidade.
Em algum momento, a expectativa com o que resta do FUC precisa rever o que já se fez e o que ainda é possível pensar às próximas edições de um evento que, em 2025, registra 45 anos de história. O que não é ‘coisa pouca’. Para isso, não basta esperar de quem circula pelas imediações do Ópera apenas elogio ou divulgação voluntária. Soa igualmente estranho ‘fechar parceria’ com apenas um canal televisivo, como se a divulgação fosse exclusiva, esquecendo o mais básico do ‘mercado’ da mídia local e regional.
Mas, tem característica importante que também supera os pomposos tempos dos exageros oficiosos: a cerimônia de abertura, direta e com justas homenagens no tempo certo, acabou com os longos discursos laudatórios, que encostavam nos 60 minutos, roubando a cena cultural, em geral com elogios aos que sequer apareciam no Cine Teatro. Na edição do FUC 2024, a abertura não deu espaço a um dos vícios que, desta vez, não entraram em cena.
Enfim, para desejar vida longa ao FUC, talvez, vale um olhar atento no retrovisor, com a necessária leitura crítica dos desafios de um evento que é parte da vida cultural da Cidade, mas já foi bem mais representativo e com a cara de um Festival Universitário da Canção.
* O autor é professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa.