Por Gabriel Aparecido e Joyce Clara
Por Emanule Pasqualoto, Gabriel Aparecido, Ingrid Muller e Joyce Clara
No sábado (08), segundo dia do Festival Gralha Azul de Vivências Literárias, o professor Dr. Carlos André Ferreira ministrou a palestra “Literatura negro-brasileira infantojuvenil e educação antirracista: aforismo e considerações”. O evento aconteceu no Sesc Estação Saudade e reuniu diversos professores, autores e ilustradores.
“Será que eu conheço a literatura negra?”. Esta foi a primeira reflexão que Carlos André levantou ao público, mostrando logo em seguida que Machado de Assis era um homem negro, apesar de muitos brasileiros não saberem disso. A partir dessa provocação inicial, o doutor em Teoria e História Literária abordou a presença de autores negros na produção literária brasileira.
Com basse em conceitos do pesquisador Cuti Luiz Silva, o professor levantou reflexões sobre as vivências e a subjetividade presentes na literatura negra, enquanto apresentou um olhar crítico sobre como é a representatividade (ou falta dela) de negros na literatura e a permanência de um olhar eurocentrista, que ele chamou de ‘manutenção idealizada’. “É a lógica imperial de apagamento”, diz ele sobre os estereótipos e papéis que os negros assumem na literatura brasileira que é mais difundida, inclusive pelo sistema de educação.
“O que vimos foram preocupações relacionadas ao status burguês e à manutenção de uma versão idealizante de um Brasil equilibrado, moralista, cujos filhos, trabalhadores, e cujas famílias, bem constituídas, teriam livros e escolas que reforçassem o padrão europeu de sucesso e de organização”, afirma o professor.
Carlos André questiona como a escola trabalha com as obras da literatura negro-brasileira infantojuvenil e em que medida crianças, jovens e adolescentes se sentem representados. Durante o debate, também destacou a censura do livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, que aconteceu no início deste ano. “Infelizmente a censura voltou a ser uma realidade dentro dos estabelecimentos de ensino”, reforça. Ele também expõe como o racismo presente nas obras de Monteiro Lobato era visto dentro das escolas, porém pouco problematizado.
Em entrevista à equipe do Cultura Plural, o professor observa que apesar da existência da Lei 10.639/2003, que institui a presença da história afro-brasileira no ensino básico ao médio, a educação antirracista é pouco vista pelos estudantes em geral. “Na minha vivência como educador, eu vejo que não é feita com o tempo”, diz. Ele complementa que alguns motivos para isso são a censura e até mesmo o pedido dos pais para que as instituições retirem livros com essa temática da grade curricular. O palestrante classifica essas ações como algo sintomático no estado do Paraná, ao reconhecer fatores que levaram à situação atual de desvalorização da cultura negra.
Carlos André considera que a literatura, especialmente para o público infantil, tem um teor imaginativo, pelo fator representativo que ela possui. “Quando a gente apaga a literatura, a gente apaga um pedacinho da nossa história, da nossa cultura”. Para ele, esse processo configura um “autocídio”, ou seja, matar a si mesmo dentro da sua cultura, apagando-a de um modo social.