Por Cultura Plural
Por Victor Schinato e Naiomi Mainardes
No dia 24 de março, a Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo, sediada no Rio de Janeiro, trouxe o espetáculo “Hermanoteu na Terra de Godah” ao palco do Teatro Marista. A peça, uma grande paródia das produções feitas sobre o Velho Testamento da bíblia, se destaca pelo humor escrachado, junto com piadas regionais adaptadas a cada localidade onde os atores se apresentam.
Hermanoteu, um hebreu nascido na fictícia Pentescopéia, recebe a missão de guiar seu povo à mítica Terra de Godah. Abandonando sua irmã, Micalatéia (uma piada recorrente da peça), e família, o homem precisa peregrinar por dezenas de anos em jejum perpétuo. No entanto, diferente dos personagens bíblicos, o hebreu não aceita seus deveres e reclama diversas vezes de fome e sede. A partir dessa pequena rebeldia, e um azar inato, Hermanoteu sofre diversos percalços em sua jornada, como se tornar um senador romano, confidenciar com Cleópatra e trocar os cálices da ceia de Jesus.
A premissa, que dá abertura a diversas tiradas cômicas que arrancam o riso do público, se adapta a cada cidade em que passa. Ao citar, por exemplo, Carambeí, a Universidade Estadual de Ponta Grossa, Castro e a situação política da cidade, os atores conseguem criar uma química ímpar com a plateia. Além da interação divertida com quem assiste, a intimidade entre os atores aparece enquanto brincam com improvisos e fantasias ao longo da narrativa.
Porém, mesmo com um timing cômico admirável ao longo de boa parte da peça, em diferentes momentos o humor reproduz preconceitos estruturais, sejam eles antissemitismo, com a caricatura de um judeu obcecado por dinheiro; homofobia, especialmente nas cenas que se passam no Império Romano; ou misoginia. A figura de Micalatéia, por exemplo, surge na história somente para ser objetificada pela maioria dos personagens masculinos, sendo um assunto tratado de forma humorística ao decorrer de toda a narrativa. Portanto, apesar de ser uma peça que respeita o roteiro original ao longo de três décadas, a adaptação em relação à época e às discussões acerca de preconceitos criados seria necessária.
Jovane Nunes, ator de alguns personagens da narrativa, como César e a Anciã, revela que a peça consegue adaptar cerca de 30 piadas com citações em contexto local como forma de surpreender e aproximar o público, sendo também uma forma de mudar um pouco o roteiro que já é conhecido pelos espectadores que acompanharam a história fora dos teatros. “Todo mundo que assiste a peça na internet não sabe que as piadas vão ser adaptadas para a cidade, o que torna cada encenação um momento único e especial”, conta. Jovane também compartilha de sua experiência como ator de uma peça como Hermanoteu, que é encenada há muito tempo pelo mesmo elenco, complementando que os atores têm liberdade para fazer brincadeiras internas que são integradas aos palcos, com improvisações que provocam risos até de quem está em cima do palco. Alguns improvisos são tão bem sucedidos que viram uma marca e acabam sendo reencenados em outras apresentações.
O espetáculo, assim como a companhia de teatro, completa 30 anos em 2025. Comemorando a data, Adriano Siri, intérprete do Anjo, revela uma programação especial em produção: uma série de apresentações para serem lançadas durante o próximo ano, juntamente com a encenação de uma nova peça do grupo.
A Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo se formou em 1995, após o grupo A Culpa É da Mãe ser desfeito. Então, os atores do antigo grupo, com a adição de outros três artistas, criaram a Melhores do Mundo e escreveram Hermanoteu.