Por Joyce Clara
Por Joyce Clara, Naiomi Mainardes e Victor Schinato
Dando seguimento à programação oficial do FENATA, no sábado (04) três peças foram apresentadas ao público: Estorvos – Se essa rua fosse nossa; Gran Circo Stopim e A Pena de Wilde, além da sessão de Motirõ, de teatro lambe-lambe.
No período da manhã, o Calçadão serviu de palco para a peça Estorvos – Se essa rua fosse nossa. Em meio aos olhos curiosos de quem passava pelo local, o Coletivo Clandestino, vindo diretamente de Dourados, Mato Grosso do Sul, encena uma história de crítica daqueles que são marginalizados. A narrativa começa com um casal: a esposa, Fátima, é datilógrafa, e o marido, Abelardo, fotógrafo. Profissões que caíram no esquecimento e são alvo de duras críticas dentro da família.
Com o desejo de ainda continuar vivendo e sendo transformados pela arte, os dois decidem então utilizar as praças – ou neste caso, o Calçadão – como seu palco da vida, respirando e trabalhando com o teatro de rua. Durante esse percurso, Fátima e Abelardo geram uma criança que também passa a ajudar nos espetáculos e na construção cada vez mais elaborada de histórias para cativar o público. Em meio a notas de uma sanfona e batidas de tambores, a família constrói uma narrativa de luta em meio ao crescimento das cidades. Fazendo críticas à corrupção humana, a peça defende a valorização da arte como uma forma de cura para um mundo adoecido.
Já na primeira sessão da noite, a Cia dos Palhaços trouxe os elementos do circo para dentro do Cine-Teatro Ópera. O espetáculo Gran Circo Stopim, performado por Eliezer Vander Brock, Felipe Ternes e Nathalia Luiz nas figuras dos palhaços Wilson, Safarro e Tinoca, mistura acrobacias, malabarismo, mágica e bailarinos, tendo interações com o público a todo momento.
A companhia constrói suas produções unindo três eixos: circo, música e teatro, e esses são representados pelos personagens de Felipe, Eliezer e Natalia, respectivamente. Sobre o espetáculo apresentado no FENATA, a ideia surgiu, segundo os artistas, como forma de homenagear o circo, levando as características desse para os palcos. “Aos poucos o espetáculo foi aderindo ao nosso estilo, a nossa linguagem mais brincante também e de troca com o público” conta Natalia. Felipe explica que boa parte das peças produzidas por eles surgem de improvisações e, com o tempo, vão acrescentando de forma fixa alguns momentos nas narrativas, verificando quais improvisações deram certo ou não.
E interação com o público também não faltou na segunda peça da noite. Em A Pena de Wilde, a plateia foi recebida no auditório da PROEX com chá e biscoitos caseiros, oferecidos pelo ator Ailton Guedes. Por meio do teatro experimental e da autoficção, Ailton brincou com as barreiras entre público e palco. O espetáculo que se inicia com uma simples receita de biscoitos da avó portuguesa do ator se torna um grito de desespero sobre liberdade e honra a memória de Oscar Wilde, autor que foi condenado por ser homossexual.
Baseada na bibliografia do escritor que dá nome à peça, A Pena de Wilde é uma conversa profunda sobre uma história de 20 anos atrás, que por mais que seja tratada com leveza por Ailton, evoca emoções de carência romântica, insuficiência e ausência de identidade própria. Na narrativa, o personagem enlutado pela morte de seu pai vai em busca da rainha da Inglaterra para fazê-la perdoar o “crime” de Oscar Wilde e o retirar da lista de criminosos.
Como um exemplo de autoficção – gênero que mescla a autobiografia com exageros fantásticos que extrapolam a realidade -, fragmentos da vida e obra de Wilde são misturados à de Ailton de maneira que se torna impossível discernir onde a realidade cessa.
O projeto foi organizado pela primeira vez com o apoio do Sesc Santos, sendo o primeiro solo de Ailton. As primeiras apresentações ocorreram numa capela de madeira, cenário simples e caseiro que ditou o tom de como seria todo o decorrer da peça, moldando o espetáculo nos seus anos seguintes.
Hoje (05) às 20h30, o ator Amaury Lorenzo apresenta a peça A Luta, seguida do espetáculo Proibido acesso, do grupo Karma Coletivo de Artes Cênicas, às 22h, ambas no Cine-Teatro Ópera.