Por Joyce Clara
Lançado em 10 de agosto, o longa Asteroid City, filme com o qual o diretor Wes Anderson teve mais êxito na primeira semana de exibição em sua carreira, reúne como protagonistas atores consolidados na indústria como Scarlett Johansson, Tom Hanks e Jason Schwartzman. A premissa é sustentada em uma peça de teatro que se passa em 1955, na cidade fictícia localizada no deserto que dá nome à produção. Essa recebe uma Convenção de Observadores Cósmicos Jr. e Cadetes Espaciais, onde crianças prodígios irão concorrer por uma bolsa de estudo. Durante o evento, um acontecimento excêntrico – a visita de um extraterrestre – mexe com todos e faz com que esse grande grupo fique em quarentena, enquanto o governo dos EUA resolve a situação.
Apesar da sinopse oficial se pautar nesses alunos, eles pouco contribuem com a trama. A real história da peça gira em torno de Midge Campbell (Scarlett Johansson) e Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) e suas angústias, uma atriz com um vazio emocional em busca do estrelato e um recém-viúvo perdido em seus sentimentos. O filme se divide em duas partes: os bastidores da peça em preto e branco e a peça em si.
Schubert Green é o diretor da peça, personagem interpretado por Adrien Brody. Foto: Divulgação
Os bastidores da peça se mostram um tanto quanto confusos no começo, com cenas desconexas que parecem fragmentos de algo maior que está sendo construído, mas que no entanto se mostra irrelevante em 1h45m de filme, ou seja, cenas descartáveis. Após um tempo, esses momentos em preto e branco, que se mesclam com as cenas coloridas, finalmente acrescentam à história – por exemplo, ao mostrar a semelhança de Midge e a real atriz que a faz.
Foto: divulgação
A peça, no entanto, é expressada em uma paleta de cores excepcional – característica de Anderson – e segue uma narrativa fluída e que leva o espectador a reflexões sobre a vida, além de abordar a relação (principalmente problemas) com a família, outro costume do diretor em suas obras. Assim o roteiro do cineasta com Roman Coppola se desenvolve entre erros e acertos. Ao contrário de obras anteriores, aqui falta aprofundamento aos personagens: enquanto em Os excêntricos Tennembaus e A Viagem para Darjeeling todos os personagens são explorados em nível médio a forte, aqui há uma falta que faz com que nomes como Steve Carell e Tom Hanks sirvam mais para dar credibilidade e chamar atenção para o filme do que como contribuição para a história em si.
Problemas entre pai e filho quase sempre são pautados nos filmes de Wes Anderson. Foto: divulgação
O estilo clássico do roteiro de Anderson vem acompanhado de personagens caricatos e com atuações nas quais os movimentos corporais parecem robóticos, mas que, de alguma forma, soam naturais na tela, mesmo em cenas mais dramáticas, como as de monólogos. E o elenco segue esse conceito muito bem, aproximando-se de quem assiste.
A quebra da quarta parede com o olhar dos atores em direção à câmera aproxima quem assiste ao contexto da cena. Foto: Reprodução
Sobre a fotografia, o colorido é algo muito explorado na maioria das produções do diretor, baseado também na teoria das cores, criando uma identidade marcante para cada longa. Além disso, a parte visual é muito bem produzida ao todo, com utilização do zoom, enquadramentos e movimentos de câmara padronizados e não tão comuns. Todos os aspectos da construção de seus filmes parecem ser milimetricamente calculados, o que se tornou a assinatura de Anderson – da qual não dá sinais de que pretenda se desfazer tão cedo.