Por Julia Almeida
Barbie é um dos filmes do ano. A grande obra cinematográfica quebrou recordes desde que foi anunciada. O detalhe imprevisto de Barbie, porém, foi o grande sarcasmo criado em torno do enredo, da sociedade e da indústria. Barbie não é só um filme para se pensar sobre a cultura do machismo e do patriarcado, mas abre também a grande discussão do que é ser mulher e, para além disso, do que é ser humano. O filme, além de bonito, é também muito sensível. Greta Gerwig consegue criar um ambiente utópico, criativo e falso, mas que consegue transmitir tudo que a boneca mais aclamada do mundo representa para as mulheres e para a sociedade. O universo Barbielândia é construído com muita inteligência, os aspectos criados de forma claramente fictícia não só tornam a obra, cinematograficamente, mais bonita, mas trazem consigo um sentimento de nostalgia e uma definição muito bem bolada do que é brincar de boneca.
Obviamente não passa batida toda crítica de Gerwig ao patriarcado, aos padrões de beleza estabelecidos pela boneca e, principalmente, a crítica direcionada à Mattel. E é nesse ponto do filme onde, para mim, o roteiro mais saiu do óbvio. Todo o longa tem uma forma original de conversar com o público, aproximando sempre o espectador e a obra, seja com seus cenários lúdicos, na incrível metalinguagem presente durante toda a obra ou nas piadas direcionadas exclusivamente para quem está do outro lado da tela. Apesar de ser uma jogada interessante, nos encontramos em um momento do cinema em que trabalhar com a quebra da quarta parede e usar de piadas autorreferenciais se torna totalmente previsível. Encontramos essas ferramentas de identificação com o público em diversas produções conhecidas, como She Hulk, Fleabeg, The Office, Deadpool. Todos sabemos que isso é uma ferramenta que dá certo, mas ela passa a se tornar algo batido a ponto do próprio público sentir falta de algo novo. É então que Barbie surge.
É possível identificar em Barbie uma certa familiaridade conhecida e o filme deixa claro o propósito desses detalhes de reconhecimento e identificação, a certo ponto que ele auto declara estar contando um certo tipo de clichê. A diretora trabalha em cima de ideias conflitantes que habitam o mesmo lugar. O grande cinismo do filme surge da dissonância cognitiva estabelecida pelo enorme contraste entre o mundo real e o mundo da Barbie. Greta consegue criar uma história que transita entre ironia, ambiguidade, dissonâncias, erros e acertos e é aqui que Barbie alcança o carinho do público. Humanizando um produto, uma indústria e um filme. É então que o público sabe estar assistindo a um clichê, mas mesmo assim se permite abraçá-lo porque se identifica e se reconhece na tela.
Obviamente é impossível não falar das atuações de Margot Robbie e Ryan Gosling, que certamente contribuíram para a explosão de Barbie. O longa é recheado de coisas que só melhoram a obra, é um filme para rir, chorar e pensar sobre a sociedade de consumo. A obra combina um roteiro muito bem pensado, uma direção impecável, um visual bonito e chamativo com um novo conceito do que é consumir cinema. É definitivamente um dos melhores blockbusters da atualidade. Barbie, de Greta Gerwig, é uma grande alusão ao que é brincar de boneca.