Por Quiara Camargo
Por Gabriele Proença, Julia Almeida e Quiara Camargo
BadRoom: os signos nos banheiros universitários, a exposição inusitada e interativa, idealizada por Crisóstomo Ñagla e os professores Marcela Teixeira Godoy e Donizeti Pessi, dá espaço a um estilo de arte esquecido e único. O que as frases dos banheiros de uma universidade pública têm a dizer para a sociedade? Foi esse o interesse dos pesquisadores para desenvolver a exposição que coletou mais de 250 frases dos banheiros da UEPG, de junho de 2022 a fevereiro de 2023. Sob curadoria de Willton Paz, a mostra de artes teve abertura no dia 12 de abril e ficará aberta para o público até 28 de abril, no prédio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex).
Neste estudo-exposição, os pesquisadores convidaram artistas famosos e anônimos para construção e organização das frases em forma de arte. Os artistas interpretaram e representaram os signos deixados nas portas e paredes dos banheiros, expressando todos os tipos de sentimentos e sensações dos alunos e acadêmicos. A exibição conta com diversos fatores interativos e imersivos, como a presença de cheiros, sons, utilização de azulejos, espelhos e vasos sanitários desativados da universidade, além da interação do público escrevendo nos objetos disponibilizados pela organização do evento.
A ideia surgiu com base nos estudos de Tom Barone e Elliot W. Eisner que incorporam as artes como um meio de compreensão de questões sociais importantes. Eisner e Barone abordam aspectos da pesquisa baseados em arte, mesclando estes conceitos distintos e controversos. Desta forma, a exposição BadRoom, ressignifica os sinais e recados deixados anonimamente pelos frequentadores dos banheiros, transformando-os num agente catalisador da comunicação.
O mestrando Crisóstomo Ngala, um dos idealizadores, conta que a exposição começou a ser planejada em maio de 2022, quando ao passar o dia na universidade, ele começou a reparar nas escritas dos banheiros. Chocado com a frase “é minha primeira cagada na facul”, ele passou a querer entender os sentimentos que levavam á aquelas escritas.
O projeto inicial era que a exposição acontecesse ainda dentro da universidade, em frente ao Restaurante universitário apenas com a transcrição das frases. Mas por sugestão dos professores e do responsável pela galeria Professor Nelson, a exposição passou a ser planejada para la. Entre os convidados para ilustrar a frase estão artistas profissionais e amadores. Crisóstomo comenta que alguns artistas, são atendidos por uma comunidade que cuida de pessoas em situação de rua e se emocionaram por participar do trabalho e ver seus nomes expostos.
Ngala frisa ainda, que a exposição casou ciência e arte, numa tentativa de despertar para o tema, ainda pouco estudado no Brasil. “A gente procurou não só coletar as frases que são várias, mas também categorizar.” explica ele.
O mestrando conta que um dos objetivos da pesquisa era entender a relação público-privado dos banheiros universitários. ” Um dos dias eu medi o espaço entre um dos banheiros que tinha muita coisa e o corredor que tinha um mural onde a pessoa pode passar informações. São três metros. Ou seja, em outras palavras, no corredor, nos murais as pessoas não fazem o que fazem nos banheiros.” Ele completa ainda que o banheiro acaba sendo um espaço de manifestação “nosso interesse é quase esse, entender o senso público, porque as pessoas sabem que no banheiro alguém vai ver. Porque nos murais isso não aparece, a pessoa fez ali (nos banheiros), sabendo que aquele é o lugar mais estratégico pra isso.”
“Se confirmou para nós que o banheiro é um território do eu, a pessoa se torna ela mesma” aponta o pesquisador ao explicar porque os banheiros aparece como esse lugar de desabafo e manifestação. Ele ainda reforça que o objetivo da pesquisa não é sujar a imagem da universidade para a comunidade, mas sim entender esse fenômeno.
Ainda segundo Crisóstomo, a partir da pesquisa foi possível identificar diferenças entre os banheiros femininos e masculinos. De acordo com sua observação, apenas os banheiros masculinos se enquadram na categoria propagandas sexuais. Já nos femininos há maior registro de frases motivacionais.