Por Lilian Magalhães
Para uma pessoa que passou boa parte da sua adolescência procurando por filmes em que pudesse se identificar, mesmo que minimamente, com os sentimentos difíceis dessa fase de primeiro contato com a juventude através da arte, o longa belga “Close”, de Lukas Dhont, recupera esse carinho que tive por tanto tempo através de uma história em que a amizade de dois meninos pré-adolescentes se torna alvo de comentários homofóbicos na escola.
Conhecemos Léo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav de Waele) em uma das cenas de abertura em que a ingenuidade chega a ser palpável no ar: o cenário de um campo, seguido por um ambiente onde os meninos brincam e então a cama que dividem para dormir se repetem diversas vezes ao longo do filme, dando ênfase na intimidade emocional e física que a amizade dos dois possui. Eles passam tanto tempo juntos que a mãe de Léo inicia o filme questionando quando o menino vem para casa, já que passa mais tempo com Rémi do que com qualquer pessoa.
O impasse nesse cenário se faz presente quando as crianças começam a frequentar um novo ano escolar. O afeto que um demonstra pelo outro vira alvo de piadas entre colegas de classe, que chegam a questioná-los se são namorados. Apesar da resposta de negação ser mútua, Léo e Remi reagem de maneiras diferentes às provocações. O primeiro é defensivo e busca formas de provar sua masculinidade. Já o segundo se torna mais recluso e perceptivo quando o amigo para de acompanhá-lo até a escola e demonstra mágoa quando as brincadeiras se tornam mais violentas. Logo, a demonstração de afeto se torna desdém e, como ato final da amizade, é o silêncio que domina qualquer conexão entre os meninos.
A experiência do filme é de uma melancolia sutil, o que se torna perceptível na transição de tempo marcada pelas cores do filme, que ficam cada vez mais frias, e a trilha sonora sendo produzida por Rémi com o seu clarinete em momentos de tranquilidade do longa. A trama me remeteu à memória três filmes essenciais sobre a adolescência masculina: Boyhood (2014), Mommy (2014) e Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016). Abordar os sentimentos de meninos sobre afeto e violência são temas difíceis em suas expressões, mas que acabam definindo toda a forma de comunicação que um homem supostamente deve agir para ser aceito, e Close é delicado em delinear os caminhos que os meninos seguem como forma de lidar com o preconceito com suas demonstrações de afeto dentro da amizade masculina.