De segunda-feira a sábado, o Sebo Espaço Cultural, localizado na rua Quinze de Novembro, abre às 8 horas da manhã. É adentrando o ambiente que começa a nossa jornada de (re)descoberta de um espaço em que a nostalgia e o conforto nos abraçam há muito tempo. Muitas vezes, um passeio pelos corredores do Sebo dura meia hora apenas em uma gaveta de CDs, ordenado em ordem alfabética, gênero musical e idioma.
No primeiro andar, a recepção do sebo é constituída por caixas repletas de chaveiros, quadros decorativos e action figures. Ao lado do caixa, uma vitrola toca músicas dos discos que são vendidos pelo sebo, o que, segundo os funcionários, serve para dar um charme especial para o local. Um rosto familiar recebe quem decide entrar no mundo particular do Sebo Espaço Cultural: Ademir Iglesias. Ele é o gerente da unidade e o sebo pertence à sua família, que já está em Ponta Grossa há quase 20 anos.
É possível perceber que manter a organização impecável é praticamente um acordo entre aqueles que visitam o local. É possível encontrar DVDs de jogos, filmes e séries, CDs de música, gibis, mangás e livros de todos os gêneros.
O segundo andar do sebo é composto por uma coleção de discos de vinil divididos por gênero musical e ordem alfabética, assim como é feita a organização dos CDs no andar de baixo. Acima das prateleiras, em uma parede, é possível observar seleções de discos que ficam em destaque. Nem todos os discos que ficam na parede são raros ou os mais caros, na verdade, a seleção compila discos que acabaram de chegar e aqueles que mais chamam atenção por conta de capas que mais parecem obras de arte.
É possível, também, observar uma vasta seleção de revistas sobre música, tatuagens e obras infantis. Nesse espaço, o sebo também conta com um vasto acervo de obras acadêmicas.
“Ir ao Centro” é sempre uma atividade de passeio para quem mora longe do movimento da cidade. Tirar uma meia hora do dia para descobrir uma nova loja ou experimentar um café com algum amigo se torna uma memória relevante para registros em um diário. Encontrar um CD que fez parte da infância, então, é digno de fotos e vídeos. “Pessoal, olha o que eu achei!” é um dos comentários mais comuns de se ouvir quando estamos dentro de um acervo de nostalgia como o Espaço Cultural. Diversas foram as vezes em que encontramos um DVD de filme que não é encontrado em nenhuma plataforma de streaming.
Seção de discos de vinil no segundo andar | Foto: Maria Helena Denck
O ambiente e o acervo
A decoração do estabelecimento também tem história. Antes de se tornar o Espaço Cultural, o prédio nº 444 da rua Quinze de Novembro era um cassino com tema do suburbano londrino, o que, de acordo com os funcionários, combinou com a estética de nostalgia que o sebo quer transmitir. E não podemos excluir o valor da rua em que o sebo Espaço Cultural se encontra há quase 15 anos. A unidade da Quinze de Novembro é ao lado do Cine-Teatro Ópera, e pelo menos em cada esquina está uma cafeteria diferente. Para Marlene Fernandes, as tardes de compras e filas em bancos terminam de forma relaxante quando a senhora de 60 anos escolhe uma pilha de revistas de crochê para ler. “Aprendi a costurar com a minha mãe, quando era pequena, e é meu passatempo favorito. Às vezes venho aqui quando quero ler algo de diferente sobre costura”.
Por essa característica, o Espaço Cultural se torna um ambiente para a formação de laços de carinho. No relato de um pai que leva o filho ao sebo todas as vezes que o menino não tem aula à tarde, o objetivo é criar o hábito de interesse por cultura, principalmente música e TV. O apreço que o pai sente pela cultura é estampado pelo boné com o símbolo de uma banda de rock que ele traja. “Frequento o sebo desde criança e quero passar esse costume a ele. Na minha época, a aquisição que eu mais valorizava era um box de uma temporada inteira de Os Simpsons. Era muito difícil de encontrar!”.
Danilo Delatorre, funcionário do sebo, explica que os mangás são muito procurados por avós de crianças. “Os avós vêm aqui e pedem recomendações de histórias em quadrinhos para presentear os seus netos. Geralmente são mangás e HQs colecionáveis”. O mesmo se repete na busca de Luca Pilatti, que visita o estabelecimento semanalmente para buscar novas histórias em quadrinhos. “Trago meus amigos do colégio para me ajudarem a encontrar raridades. Gosto de garimpar HQs por aqui, é um bom ambiente, me sinto confortável em passar tempo conversando com eles enquanto garimpo os livros”.
Seção de almanaques, HQs e mangás | Foto: Lilian Magalhães
Ademir Iglesias é o responsável pela negociação dos produtos com clientes que oferecem seus acervos pessoais e com fornecedores de outros estados, além da venda de produtos em si. “O público é muito amplo, desde adolescentes até o pessoal adulto, que vêm em busca do nosso acervo de direito, por exemplo”, explica.
Nem só de curiosos e pessoas que gostam de passear no centro da cidade se forma a clientela do sebo. Algumas pessoas visitam o local toda semana em busca de itens de colecionador, como discos de vinil raros que mal chegam e já são garimpados pelos apaixonados por música. Ademir Iglesias diz que já reconhece alguns dos rostos das pessoas que frequentam o sebo em busca de aumentar suas vastas coleções, e que as vendas rápidas de discos de vinil já são muito comuns. Mesmo com o acervo sempre renovado, alguns itens são vendidos com facilidade e a procura é imediata.
* O texto é resultante da observação realizada em um espaço cultural para a disciplina de Estudos de Comunicação e Cultura, do curso de Jornalismo da UEPG, em 2022.