Abrir a porta
A primeira preocupação de um homem é amanhecer,
como se a noite fosse uma teia
toda grudada, dispersa, frágil,
tomando conta dos meus olhos, da minha mente,
carregando um significado e uma carga
que não são da sua definição,
mas quem sabe da sua essência.
A manhã já se esgueira pelo quarto,
sobe o rodapé e o meu sentimento,
vai devagarinho entrando nos olhos e na alma,
como um copo de esperança ou quem sabe um infortúnio,
nunca se sabe se a refeição apressada
matará minha fome
ou será responsável pelo meu engasgo
na tentativa de um último suspiro.
Tantos são os soldados
quanto demanda a guerra,
tantas são as armas
e mesmo as concessões para a sonhada paz.
Posso considerar meus olhos
portadores de alguma verdade oculta?
Ou serão apenas eles
instrumentos que me prendem
às ilusões?
Não entendo o vazio das coisas,
pois são elas tão cheias de significados e desejos,
como poderiam se calar diante dos fatos?
Trago em mim sonhos
e o amor mais quente,
um fogo infinito,
mesmo que eu seja feito
apenas das finitudes.
Sou um ser perene,
mas tenho tanto medo!
Não sei o que me pertence
e ao que eu pertenço.
Tenho muitas questões,
tenho muito q aprender,
tenho um mundo a conhecer,
mas será que tenho tempo?
Ladrão das horas, das manhãs,
e mesmo das noites,
os pensamentos se chocam e produzem luz,
essa mesma luz ilumina a escuridão
que está à frente,
mas meus olhos, embolados em lágrimas,
veem apenas ruídos do futuro,
como um para-brisa sendo chicoteado pela chuva incessante.
E nisso eu percebo que é preciso sonhar,
nem que isso custe muito,
nem que me leve os anos,
nem que eu pare de me reconhecer.
Eu estava lá quando o mundo nasceu
e estarei lá quando ele morrer,
pois o que é o acordar e o adormecer
senão a o nascimento e a morte
da vida diária?
E nisso apenas contém
o que a minha visão me demonstra,
de resto, apenas estatísticas e relevos.
E no fim eu volto a minha imensidão,
tão pequena ante aos fatos do mundo,
mas me é tão caro.
No jardim da manhã brilham gotas de orvalho
e já é o bastante para mim.