Por Joyce Clara
Auditório da UEPG foi palco da primeira exibição, seguida de debate com o público
O documentário Sobre Vivências Travestis é uma produção do projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, do Curso de Jornalismo da UEPG, em parceria com o Grupo Renascer. O lançamento ocorreu na manhã da última quarta-feira (23), no Grande Auditório da UEPG, e contou com a presença de Débora Lee, fundadora da ONG Renascer, e Fernanda Riquelme, protagonistas do longa.
A produção apresenta o relato das primeiras travestis de Ponta Grossa, que expõem desafios que enfrentaram ao longo da vida, como situações envolvendo pedofilia, violência sexual e transfobia, além das dificuldades relacionadas ao trabalho, saúde e educação no município. O objetivo do documentário é gerar reflexão para o público, mas também como material científico e pesquisa. Antes da exibição, a professora Karina Janz Woitowicz, integrante do Elos, fez uma breve apresentação das convidadas e expôs que a ideia surgiu ainda em 2018. No ano seguinte a produção teve início, mas foi interrompida durante a pandemia de Covid-19 e finalizada somente neste ano.
“Uma reciclagem imensa no que se diz respeito à sensibilidade”. Esta foi uma das frases ditas pela Débora Lee para definir o comportamento da sociedade. A primeira assistente social travesti do Paraná, formada em 2022, expressou no longa as dificuldades que enfrentou antes de ter a oportunidade de formação. Ela relatou a perda da mãe por um homicídio aos 12 anos, a expulsão de casa pelo pai, época em que precisou entrar na prostituição e sofreu violências sexuais, fatos que aconteceram entre seus 12 a 16 anos e marcaram sua vida.
Já a professora Joseli Silva, coordenadora do Grupo de Estudos Territoriais (GETE) do curso de Geografia da UEPG e pesquisadora da área de gênero, destacou que o documentário tem a função de ser dispositivo de debate social. “Hoje é um dia especial porque estamos celebrando um aprendizado conjunto”. A professora também cita o conceito de morte lenta: quando o coração ainda pulsa, mas o indivíduo está morto socialmente à medida que esta vida não é cuidada.
Após a exibição, foi aberto espaço ao público para perguntas e debate, e uma das discussões levantadas foi sobre a questão da falta de campanhas de conscientização contra o HIV em Ponta Grossa, por conta da atuação de Débora Lee no grupo Renascer. A assistente social relembra que o trabalho do grupo tinha o desafio de enfrentar o estigma da AIDS e que a distribuição de preservativos, principalmente para as travestis, auxiliou na baixa no número de infectados. As ações iniciaram na cidade, mas se estenderam para toda a região sul.
O documentário de 40 minutos teve na produção estudantes integrantes do projeto ELOS e a pós-produção feita pelo jornalista Angelo Rocha. Sobre Vivências Travestis está disponível no canal do Youtube do projeto Elos