Suor e sangue
Esse jaleco pesa
como pesa o arado,
esse estetoscópio marca
como ferro quente na carne fria,
tento me debater,
mas é inútil,
você é fraco,
você é mercenário,
você tem que fingir,
você tem que ser cego!
Algo grudento adere minha pele,
parece a vergonha,
parece a culpa,
mas é o sangue
do paciente sobre a maca,
o sangue,
a marca da vida,
o sangue,
o anúncio da morte.
O que o sistema me faz,
a escravidão debaixo
de panos quentes,
a luta contra gigantes,
os braços que tentam conter o mundo,
a voz que clama
por revoluções.
Esse corredor,
um emaranhado de problemas,
um túnel fundo
das minhas angústias,
sinto cada dor
afundar a minha pele,
cada grito
rasgar a minha carne,
tenho um grito preso
nas entranhas,
tenho força
para quebrar
todas as coisas,
corro,
fujo,
sento na sala de curativos
e choro,
para o que eu luto
qualquer choro é pequeno.