As bocas raivosas
mastigam palavras,
cospem ideias irrelevantes,
e os olhos
vermelhos,
na ansiedade
de serem vistos,
piscam
em movimentos amplos
e angustiados,
há várias formas
de pedir perdão.
As cabeças diplomáticas,
de faces pálidas
e horas orgulhosas,
debatem palavras incorretas
entre pessoas
sem importância,
o azul do céu,
o verde do mar,
o vermelho do sangue,
nada muda em função delas.
Ameaças da fome,
alentos de esmolas,
o que não toca a pele deles,
o que não queima sua face,
o que não espreme seu peito,
que não anseia seu estômago,
não há porque
lutar pela dor dos que não tem voz,
daqueles que sofrem
das mazelas criadas,
que sofrem por falta
e que não há carinho,
não há porque
fabricar sonhos alheios,
realizar cruzadas por compaixão,
não há por que
ter por quês.
A sua dor é a minha,
a sua fome na minha boca,
o seu grito preso na minha garganta,
estou a um passo de explodir,
um segundo de morrer,
e a vontade latente de tudo mudar,
a ânsia de fazer aqui
uma revolução por minuto,
lutar por ti,
lutar por mim,
por um futuro,
por uma vida
a quem não vive.