Por Cultura Plural
ANARQUISMO
O anarquismo é um modelo de organização social que defende uma sociedade sem governantes ou hierarquia governamental. É comum considerarem a anarquia um caos, pelo fato de ela nunca ter sobrevivido em uma sociedade. Essa corrente ideológica que teve início na metade do século 17, tem entre seus maiores pensadores, Tolstoi. Foram essas ideias que inspiraram Giovanni Rossi, pensador italiano de 1856 a escrever livros que refletiam hipotéticas experiências anárquicas.
GIOVANNI ROSSI
Veterinário formado pela Escola de Pisa, Giovanni Rossi foi um italiano que, desde a adolescência, defendia os ideais socialistas de Marx e Engels. As ideias o inspiraram a escrever artigos sobre experiências socialistas em colônias para testar a sua viabilidade. Com uma falha na primeira tentativa, Rossi veio ao Brasil com intenção de fixar uma colônia anarquista de Italianos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas acabou parando em Palmeira, no Paraná, por problemas de saúde de alguns imigrantes. Existem controvérsias quanto ao conhecimento de Dom Pedro II: enquanto uns historiadores afirmam que o imperador doou as terras, outros relatam que o mesmo nem sabia da existência da colônia. Rossi chegou a Palmeira em 1880, encontrando caça farta e um solo fértil para os padrões italianos.
COLÔNIA CECÍLIA
A Colônia Cecília foi uma experiência prática do Anarquismo, que durou de 1890 a 1894, em terras do perímetro da cidade de Palmeira, Paraná. Fundada por Giovanni Rossi e outras cinco pessoas, a colônia já em 1890 ganhou seu primeiro descendente. A convivência na Colônia era baseada em valores sócio-anarquistas, como a prática do amor livre, o ateísmo e a distribuição de trabalhos entre os colonos.
O conceito de amor livre consistia no descompromisso formal entre os casais da colônia, podendo haver trocas entre os companheiros conforme quisessem. De todo modo ocorreu apenas dois casos de amor livre, um deles envolvendo o próprio Rossi.
Em 1891 o número de pessoas na Colônia Cecília chegou a pouco mais de 150, obtendo seu auge com 250 habitantes. A colônia era divulgada na Itália, principalmente por Rossi, e isso fez com que muitas famílias aderissem à experiência anarquista em busca de melhores condições de vida.
A vida dos colonos era organizada e decidida em assembléias realizadas na Sala da Fraternidade, uma espécie de auditório onde todos tinham direito à opinião e decisão dos regimentos da Colônia. Rossi desenvolveu também uma pedagogia ácrata, ou seja, com ensinamentos ao ar livre. O italiano, apesar do que possa parecer, era somente o idealizador e não um líder.
A sociedade era heterogenia, ou seja, formada por engenheiros, professores, analfabetos, trabalhadores braçais, artesãos e agricultores. Utilizavam a agricultura como forma de subsistência e cultivavam vinho e erva-mate para obter renda fixa.
A sociedade da época não via a Colônia Cecília com bons olhos. Por se tratar de um ambiente em que predominava o ateísmo, a população católica da época descriminava os colonos. Os cicilianos foram proibidos de enterrar seus mortos no cemitério local e para tanto fundaram o próprio cemitério conhecido como “Cemitério dos Renegados”. A prática do amor livre, por sua vez, feria os princípios conservadores daquele tempo.
Os motivos para o término da Colônia foram muitos, entre os quais se destacam a miséria dos colonos, os desentendimentos gerados pela distribuição dos trabalhos, o ciúme causado pelo amor livre e, principalmente, a relação dos anarquistas cicilianos com os maragatos na Revolução Federalista.
Para Rossi, a grande razão da experiência anarquista não ter funcionado foi a dificuldade que os cicilianos tinham em esquecer os valores da sociedade burguesa, como a família e a hierarquia social, por exemplo.
Em seu último ano de existência havia cerca de 50 pessoas na Colônia. A experiência rendeu produções de duas mini-séries e um filme, além de livros, como o do pesquisador Arnoldo Monteiro Bach.
Escritor formado em Letras pela faculdade de Irati e especialista pela UFPR, Arnoldo Bach lançou o livro “Colônia Cecília”, e resume a experiência anarquista dos Campos Gerais.
Reportagem de Hellen Bizerra