Por Yasmin Orlowski e Manuela Roque
Evento contou com performances, apresentações musicais e debates sobre igualdade e inclusão da comunidade LGBTQIA+
Por Manuela Roque e Yasmin Orlowski
A 4° edição da Parada Cultural LGBTQIA+ dos Campos Gerais aconteceu no último domingo (4). O evento foi realizado de forma totalmente remota, em decorrência da pandemia de Covid-19. A transmissão para o público ocorreu ao vivo pela plataforma do Youtube no canal oficial da Parada.
A parada teve abertura com uma fala da Drag Queen Cindy Cindy (Fábio Mendes), que mediou todo o evento. Ele contou que criou a personagem para levar mais amor, alegria, brilho e glamour para as pessoas. A primeira participação especial do evento foi da professora de Educação Física Lucimara Pereira Duarte. Como mulher lésbica, ela falou sobre a importância da parada LGBT na cidade de Ponta Grossa: “Essa é a importância da representatividade! Esse aqui é o nosso lugar de fala, é um momento cultural, é um momento político, e também é um momento de sermos vistos e ouvidos por todos os ponta-grossenses”.
O evento seguiu com apresentações e performances, começando por Allan Machado que fez uma apresentação de Pole Dance com a música tema “Brazil” da rapper norte-america Iggy Azelea em parceria com a cantora brasileira Glória Groove. Posteriormente, a Parada contou com as performances das Drags Julie San Firerro e Veronicka em uma apresentação tecnológica e cheia de efeitos visuais. A vereadora Josi do coletivo PSOL, mãe de um menino gay, foi a segunda convidada especial do evento. Ela enfatizou a importância dos pais para aceitarem seus filhos LGBT´s. Logo em seguida, foi apresentado o trabalho editorial “As cores do amor” de Aleff Francisco, no qual é ressaltado, por meio de uma série de depoimentos, o papel transformador do apoio na vida de pessoas LGBTs.
Por conta da pandemia e da impossibilidade de festejar presencialmente, a Parada trouxe como atrações musicais as DJ´s Layla e Mari. A dupla tocou para o público o set “Mix da bandidah”. Outra performance cheia de brilho e colorido da noite foi da Drag Flora Wonder, que performou a música “Never Enough”. Outras presenças políticas foram das irmãs Joce (vereadora) e Mabel Canto (deputada). As participantes falaram sobre os princípios da igualdade e do amor nos tempos atuais.
Guilherme Portela, militante da causa LGBTQIA+ também ressaltou a importância da realização da Parada LGBTQIA+ dos Campos Gerais: “Dar voz,
dar visibilidade, fazer com que nossa população seja reconhecida para a cidade, esse é nosso propósito”.
Vários representantes e militantes LGBTQIA+ compartilharam suas vivências e feitos através do “Projeto Holofotes”, uma nova iniciativa introduzida para o público da Parada. Em seguida, ocorreu a apresentação de duas músicas autorais do cantor Felipe Aretz. A Drag Queen mediadora Cindy Cindy também performou no evento, ao som da música “Won´t Look Back”. Após a apresentação de Cindy Cindy, o DJ NAN trouxe diversos convidados da comunidade com vídeos dançando e performando músicas remixadas de artistas LGBT+ e que apoiam a causa no Brasil, como Pabllo Vittar, Luísa Sonza, Anitta, Pedro Sampaio e Pocah. Já o DJ Romanov cantou um de seus mais novos singles, o rap intitulado “Dano”. A Parada também contou com a participação do cantor ponta-grossense Vicco, que apresentou um medley de suas músicas autorais “Mercúrio”, “Achados e Perdidos”, “Apego” e “Miles Away”.
Mais performances de veteranas da Parada foram apresentadas para o público, desde a Drag Queen Mada Freedom, com um medley de músicas de divas pop como Madonna, Gloria Gaynor e Lady Gaga, à Helamã Cardozo, com um remix de batidões do funk carioca em conjunto com a música Up! da rapper norte-americana Cardi B. Também tiveram apresentações de Drag Queens debutantes no evento, como Thorn Moon, que realizou uma coreografia e cover intimista da música “Remember me”, e Charlie, que trouxe uma performance da música “Sana Sana” da cantora e compositora argentina Nathy Peluso.
Na segunda parte da série de depoimentos “As cores do amor”, feitas por membros da comunidade LGBTQIA+, mais cinco ponta-grossenses relatam quais são os membros da sua família que são suas inspirações e maiores apoios na luta diária contra preconceitos e discriminações. Mães, avós, madrastas e sobrinhas foram as principais mencionadas. Alison Francisco, de 26 anos, agradece todos os dias por ter não apenas uma sobrinha para apoiá-lo, mas também uma melhor amiga e confidente: “Eu me sinto muito privilegiado por ter uma família que me apoia, e gostaria que todo LGBTQIA+ tivesse essa oportunidade de ter uma família de sangue ou uma família de coração que o acolha e o ame”.
A vereadora da cidade de São Paulo Erika Hilton também deixou um recado para o público da Parada: “Estou passando para desejar muita energia e fervo, porque fervo também é luta, para a organização e para os participantes da Parada! É super importante realizar ações para manifestar a nossa vida, as nossas pautas e as nossas reivindicações! Estamos passando por um apagamento horrível no que diz respeito a políticas públicas para a comunidade LGBTQIA+ com esse governo genocida e que elegeu como inimiga número um a nossa comunidade”. Ela observa que é preciso que todas e todos caminhem juntos, lado a lado e de
forma organizada, em defesa de direitos e de uma reformulação dos processos políticos, colocando as pautas da comunidade no centro do debate. “Que estejamos unidos atuando por uma sociedade mais justa, mais equânime e que nos respeite”, finaliza.
A professora de alfabetização da rede municipal de Ponta Grossa, Kassiane Desplanches, foi a convidada especial para representar a sigla B de bissexuais da comunidade LGBTQIA+. Kassiane declarou que a Parada é um excelente momento de diálogo sobre a deslegitimação da bissexualidade em relacionamentos afetivos: “Há muito preconceito sobre a sigla B, tanto que quando a gente está em um relacionamento homossexual só nos consideram lésbicas, mas quando a gente está em um relacionamento heterossexual só nos consideram hétero. Nunca levam em consideração a bissexualidade. E isso muitas vezes leva ao julgamento do caráter da pessoa que se identifica como bissexual”. A professora também pediu mais respeito pelos integrantes da sigla. “Estou aqui hoje para dizer que não deve haver um julgamento, pois identidade sexual é um direito nosso e é o que nós somos! Ninguém é promíscuo por gostar de ambos os gêneros! Então, por favor, nos respeitem”, enfatiza.
A Drag Queen Morgana Firebomb, conhecida pelo público como “a rainha da dança”, foi a responsável por encerrar as performances da Parada LGBTQIA+ dos Campos Gerais de 2021. Morgana preparou um remix das músicas “Buzina” e “Flash Pose” de Pabllo Vittar, “Bandida”, parceria de Vittar com a funkeira Pocah, e também “Modo Turbo”, feita em conjunto com Luísa Sonza e Anitta. O evento, realizado no palco principal do Cine Teatro Ópera, também apresentou a história do imóvel para o público e, através de um tour realizado pela apresentadora Cindy Cindy, destacou a importância do espaço para a arquitetura e cultura ponta-grossense, atualmente tombado pelo Patrimônio Histórico do município.
Em sua fala final, Cindy Cindy agradeceu a todos que acompanharam o evento e proferiu uma homenagem às Paradas LGBTQIA+ anteriores: “Nós gostaríamos muito que nossas duas últimas edições tivessem sido do modo como nós surgimos: na rua, gritando, clamando por um mundo melhor. Nós teimamos muito para que pudéssemos estar aqui hoje, porque para nós realizarmos nossa Parada é um grito de resistência e esperança”. A apresentadora também citou o educador Paulo Freire em seu discurso sobre a importância de ter esperança em tempos tão sombrios como os atuais. “E esperança para nós, trata-se de um verbo. Esperançar é se levantar, é ir atrás, é construir, é não desistir. Esperançar é levar adiante e juntar-se com outros para batalhar. Nós esperançamos contra todas as vítimas da Covid-19, por todas as crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos LGBTQIA+ que vivem no país que mais mata a nossa população”, declara.
Cindy Cindy também teceu críticas à gestão feita pelo Governo Federal durante a pandemia da Covid-19: “Quando nós apontamos falhas políticas na gestão da saúde do nosso país, não estamos tratando apenas de retórica. Estamos falando de alguém que recusou 53 emails de importação de vacinas. Um governo que debocha de quem foi contaminado pela doença, que caracteriza uma pandemia que matou mais de 500 mil brasileiros como uma ‘gripezinha’. De um governo que afirma que as universidades públicas, as mesmas que produzem vacinas, são espaços de balbúrdia. De um governo que tem despertado o pior sentimento da população. O sentimento de ódio, de naturalização das desigualdades e de violências. Esses fatos nos levam a afirmar, sem nenhuma dúvida, que vivemos sob um governo genocida”.
Em nome de toda a comissão organizadora, participantes do evento e também do público, a apresentadora clamou por justiça e igualdade no Brasil para todas as minorias. “Lutamos todos os dias quando teimamos em viver. Lutamos todos os dias para sermos respeitados, acolhidos, amados e valorizados. Lutamos para que nossas existências sejam reconhecidas em políticas públicas, porque nossas necessidades são coletivas. Em memória e em indignação por todos que perderam seus amores, suas famílias e seus amigos pelo coronavírus, exigimos vacina no braço e comida no prato para todo o Brasil e para nossa cidade também! Nós nos encontraremos nas ruas para celebrarmos nossos corpos e afetos, e será logo”, finaliza.
A Parada LGBTQIA+ dos Campos Gerais de 2021 é um evento promovido em parceria com a Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB de Ponta Grossa, com o Grupo Dignidade e a Aliança Nacional LGBTQIA+. O evento também contou com apoio da Universidade Estadual de Ponta Grossa e com a Fundação Municipal de Cultura. Para assistir o evento na íntegra, acesse o Youtube da Parada Cultural LGBT dos Campos Gerais e o Instagram da Parada.