Por Cultura Plural
Por Yuri Marcinik
Abordar o sobrenatural atualmente é um exercício de drama árduo. Além de ter de superar o ceticismo que o público pode trazer consigo, há o fator de inovação. O que mais esse subgênero pode oferecer? “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021)” responde a isso se voltando para invólucros consagrados no passado, mas indo além de meras recriações estéticas.
A trama acompanha o casal de demonologistas Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) Warren durante a investigação do caso Brookfield. Em 1981, Arnie Jonhson (Ruari O´Connor) foi acusado de matar em flagrante seu chefe e amigo Bruno (Ronie Gene Blevins). Em sua defesa ele alegou que estava sob influência demoníaca no primeiro caso em que esse tipo de argumento foi levantado em um tribunal nos Estados Unidos.
Ainda que o filme possua detalhes que o diferencie dos antecessores pelo fato de o enredo ser sobre uma investigação e não uma casa mal-assombrada, o filme joga com o que é esperado. O terror pipoca continua afiado, Farmiga e Wilson expandem os poderes de sua química e os sustos repentinos marcam presença entre as referências a filmes clássicos. Seja em enquadramentos ou tipos de fontes.
Mesmo com algumas dessas referências sejam óbvias (a chegada de um padre é igual a entrada do padre Melrrim (Max Von Sydow) em “O Exorcista” (1971)) o longa-metragem mostra que também pegou a melhor lição que as obras que saúda podem ensinar. No melhor estilo Stephen King, o filme sabe que não importa o quão grande for a ameaça e nem o quão grotesca seja a sua forma, o seu terror só funciona quando tememos pelos protagonistas cujas personalidades e jornadas aprendemos a ver com empatia.
É impossível negar que os Warren são o coração da franquia. Seja pelo carisma da interação entre os intérpretes ou pelo modo como o casamento de ambos é construído em tela. Ao enfrentar as forças implacáveis de uma Grã-mestre satanista, a nova e misteriosa ameaça, Ed e Lorraine sempre se apegam às suas meigas origens para lembrar que amar alguém não os torna mais fracos, ainda que mais vulneráveis, mas sim o contrário. O lançamento do filme no dia dos namorados do Brasil não poderia ser mais oportuno.
Como a direção de Michael Chaves alterna entre momentos de leveza e choque, a nova parcela da franquia soa como um conto de fadas da era de ouro da Disney. Bruto e aterrorizante em seus meios de se fazer entender, mas doce na medida certa em suas mensagens sobre o poder do amor e as consequências de sua negligência.
Numa época onde terrores independentes como A Bruxa (2015) Saint Maud (2020) e Hereditário (2018) são saudados por seus aspectos ambíguos, pessimistas e construções sóbrias, a franquia criada por James Wan vai na contra mão e continua entregando o que faz de melhor: Entretenimento ágil, eletrizante e terno para provar que enquanto houver calor humano dentro do subgênero, o sobrenatural sempre terá uma nova faceta a ser mostrada.
Serviço: Filme “Invocação do Mal 3”. Sábado e domingo, às 21h20:
Local Cine Flexx Drive-in (Nova Rússia, em frente ao Hotel Princess). Ingressos 1 pessoa – R$ 20; 2 pessoas – R$ 30; 4 pessoas – R$ 40. Bilheteria 30 minutos antes do filme ou online (www.cineflexx.com.br)