Por Jessica Grossi
Edital estadual avaliou itens como originalidade, consistência da proposta, performance, relevância e abrangência cultural
Seis produções de Ponta Grossa foram selecionadas no edital “Cultura feita em Casa”, promovido pelo Governo do Estado. As inscrições ocorreram até o dia 27 de julho por meio de plataforma própria. Ao todo, foram recebidas 543 inscrições de conteúdos digitais da área da cultura e selecionadas 388 propostas, que foram divulgadas no final de outubro.
O edital tem o objetivo de promoção de renda ao setor cultural e levou em consideração na avaliação itens como originalidade, consistência da proposta, performance, relevância e abrangência cultural. Somente aquelas que obtiveram 70 pontos foram consideradas aprovadas.
Foram selecionados produtos culturais prontos que serão exibidos em formato de vídeo ou áudio em uma plataforma própria. As propostas enviadas deveriam ser das áreas do teatro, artes visuais, audiovisual, expressão cultural, cultura popular, cultura indígena, culturas oriundas de comunidades tradicionais, literatura, livros e leituras e música. Os formatos envolvem monólogos, esquetes de comédia, literatura dramática, performances de circo, performances de dança, oficinas teóricas ou práticas, podcasts, apresentações de voz e violão ou instrumental, contação de histórias, videoaulas, vídeos de arte-educação, ação educativa de formação e curtas-metragens.
Entre as propostas selecionadas de Ponta Grossa, duas são performances de circo, duas contações de história, uma leitura dramática e uma oficina teórico-prática. A oficina de Lambe-Lambe foi inscrita por Ana Istschuk, uma das coordenadoras do Pássaro Liberto, que existe desde 2019. A oficina produzida pelo Pássaro surgiu em setembro do ano passado. O vídeo inscrito no edital foi produzido durante a pandemia. O grupo também continuou suas atividades de forma remota e com encontros online para discussões sobre literatura.
Para Istschuk, a importância do edital está em possibilitar a manutenção da vida dos artistas. “Muitas pessoas fizeram uso da cultura e da arte para conseguir se manter bem durante a pandemia pela questão de saúde mental”, observa. Para ela, é justo que os artistas sejam remunerados por conteúdos produzidos antes e durante esse período.
O Pássaro Liberto continuou as atividades de forma remota, mas outros grupos da cidade não conseguiram, como é o caso da ABC Projetos Culturais, que suspendeu diversas atividades durante a pandemia. “Os únicos projetos que conseguimos dar continuidade no período foram os voltados à edição de livros, nos casos em que a pesquisa já tinha sido finalizada ou não dependia de atividade externa”, conta Alessandra Perrinchelli, autora do livro “Coisas de Sofias”, que foi inscrito no edital em formato de videolivro. O videolivro é formado pelas páginas da história, com QR codes e a contação da história, favorecendo a acessibilidade e uma leitura interativa, como explica a autora.
Outra produção de Ponta Grossa vencedora do edital é a leitura dramática da obra “Agreste”. Maria Luiza Fadel adaptou o texto, montou o cenário e gravou o vídeo em isolamento social. A peça de Newton Moreno (1968) se passa no Sertão e trata de temas atuais, como explica Fadel. “Durante a história são tratados preconceitos com relações homoafetivas e com nordestinos. O livro é um clássico da literatura da dramaturgia, é uma obra bem consagrada”, comenta.
Um dos selecionados com performances de circo é o “Tem um circo no meu quintal”. O vídeo, gravado do celular do artista e respeitando o isolamento social, foi inscrito por Robert Salgueiro, que trabalha na área circense há 27 anos. Com a pandemia, Salgueiro precisou se reinventar. “Nos vimos impossibilitados de exercer nossa profissão. Então, para nos reinventar e levar a ludicidade da magia do circo de maneira virtual, criamos o espetáculo ‘Tem um circo no meu quintal’”, que mostra a imaginação do Palhaço Picolé.” O artista também realizou lives e iniciou o Delivery da Alegria para não interromper as atividades. A profissão de Salgueiro, artista circense, foi uma das mais prejudicadas no isolamento social, pois sem plateia não há espetáculo.