Por Cultura Plural
Pela segunda vez neste 39º Fenata, o grupo campineiro Os Geraldos se apresentou na mostra adulta. A primeira foi na segunda-feira (7), com o espetáculo “Hay Amor!”. Na noite de quarta-feira (9), três atrizes e dois atores do grupo apresentaram “Números”, dirigido por Roberto Mallet.
Conforme a sinopse do espetáculo, constante do programa do festival, trata-se de uma comédia em que um grupo de artistas mambembes se multiplica em diversas funções para apresentar uma série de números inspirados na tradição circense. “Um espetáculo que traduz o amor do artista pelo seu público e que, apostando no talento humano para realizar essa alquimia que transforma a pobreza de recursos materiais em arte, torna-se uma metáfora não apenas da situação do artista hoje, mas do próprio povo brasileiro”, termina a sinopse.
É um grande mote, sem dúvida, e mostrado em uma proposta diferente, bastante fragmentada e que remete a um certo “proto-teatro” que era praticado entre o final do século 19 e o início do 20 nos países da Europa. Essa é a referência mais imediata da montagem. Lembra muito o famoso “teatro de atrações” russo, que fez parte da formação do cineasta Sergei Eisenstein. Aliás, é uma das principais referências da sua teoria da montagem.
À maneira de clowns revisitados, os cinco atores se revezam em números circenses, cada um mais nonsense que o outro. São impagáveis, por exemplo, as entradas em cena da lhama (Julia Cavalcanti). A performance de Gustavo Valezi com a cadeira, no início espetáculo, um tour de force respeitável. Mas quem ganha todas as cenas é mesmo Douglas Novais, como Cícero e seu acordeão. É um clown profundamente triste e melancólico em sua forma ridícula e nervosa de se comunicar com o público. O fato é que a sua performance acaba timbrando as dos outros personagens. E fica-se na expectativa de se saber porquê o público responde quase que instintivamente ao espetáculo. Simples. Porque fala do ridículo humano, das suas imperfeições. E aí reside a força do espetáculo, porque toca no universal.
E já que se falou de cinema, é digna de nota a sonoplastia, que inclui os temas dos filmes “Cantando na Chuva”, “O Mágico de Oz” e “… E o Vento Levou”. Chega a ser uma covardia colocar trechos dessas músicas no espetáculo, de tão deslumbrantes que elas são, ainda mais contrastando com o nonsense das cenas.
Um único ponto a destacar. É latente que o elenco é muito bom e que dá aos espectadores aquilo a que se propôs. Mas talvez seja um espetáculo que tenha ainda mais força se representado na rua. É um questionamento e uma sugestão.
*Helcio Kovaleski é crítico de teatro desde 2000, quando começou a escrever para o site Convoy. Desde 2001, publica regularmente críticas sobre os espetáculos do Fenata no jornal Diário dos Campos. Também já publicou críticas de espetáculos que vieram a Ponta Grossa em outros períodos do ano. Entre 2002 e 2004, escreveu críticas de cinema no jornal d’pontaponta e, entre 2005 e 2006, críticas de televisão no jornal cultural Grimpa.