Acordo para a vida,
com a visão turva,
com o corpo fraco,
sinto-me como a folha,
decadente, solta,
porrendo aos poucos,
descendo degrau por degrau,
desfazendo de cada sonho,
de cada pedra,
de cada esquina.
Acordo para o mundo,
desorientado e confuso,
fiel como máquina
desempanhando seu papel
sem nem mesmo saber qual.
Acordo e ainda durmo,
bum tremeluzente amanhecer,
frio, distante, lento,
e ainda sou a criança,
a luz no olhar,
a escada infinita,
o vazio,
o tudo.
Acordo cansado e fraco,
plural e singular,
transbordando,
vazio,
passageiro,
eterno.
Sou incontável como um segundo,
quem sabe milhares,
quem sabe ninguém,
sou o que desejam,
sou o que odeiam,
sou,
ser,
nascer.