Todas as aflições vêm do futuro,
recicladas a cada dia, a cada manhã,
plantadas firmemente no ser;
crescem ao longo do dia
e se intensificam no florescer,
momento em que se torna máxima
e dificilmente se pode ouvir
ou pensar em outra coisa.
Em contrapartida,
toda melancolia tem sua fonte no passado,
em algum lugar escondido,
escuro e inóspito,
algum lugar que desprezamos e esquecemos,
mas que emite um sinal,
que deflagra uma dor,
algo difícil de nomear.
Tristezas do passado,
medos do futuro,
são pilares estancados
na fundação do ser,
são fontes de maior tristeza e medo,
de um ciclo pesado
que se refaz diariamente
excluindo apenas o hoje, o agora.
Quebrar as paredes desse alcova,
destruir os limites que nós mesmos impusemos,
criar, viver, mudar e ganhar,
cair, errar, perder e entender,
mesmo que a angústia bata a porta,
mesmo que a desconfiança traga o medo;
voar não é caminho, é liberdade;
sonhar não é plano, é imensidão;
navegar é preciso,
viver não.