Cego,
cego e certo como o vento,
perto,
bem mais perto que o momento,
triste e certo como a chuva
em um vão de alento.
Inquieto,
inquieto e tremeluzente
quando segue meu pensamento,
dúvida,
dúvida cara, dúvida clara, dúvida escura,
dúvida dura.
Seguem meus pés,
como um deslizar na cidade das notícias,
como a noite,
como as milhares de vozes sangrentas
que empunham suas certezas
contra o ventre de suas mães,
nada para no balbuciar frio da cidade.
Tudo está escuro,
escuro e frio como quando nos perdemos
na solidão do passado,
no tempo em que não éramos,
no tempo que as ruas eram
apenas desenhos amplos da nossa voz.
Tudo está escuro,
como na lenta noite
que nos abraçava
e não nos deixava respirar,
estávamos inquietos e com medo,
medo do vazio,
medo do ontem e do amanhã,
medo do medo.
Escuro, escuro…
É o que me arremessa contra o muro
e me põe de joelhos,
que me cobra e me impõe,
que se ri dos meus olhos vermelhos
em um lampejo de manhã.
Escuro… Escuro…
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