“ei, moço bonito!”
era a terceira vez que ela me parava. ela sempre me trazia alguns poemas e pedia umas moedas em troca. ela tinha o cabelo azul, olhos castanhos, brincos espalhados pela face. sempre sorria.
“diga!” e a encarei.
“eu tenho um poema para deixar com você. será que você não tem umas moedas para contribuir aí?” ela sorria. seus traços mostravam uma mulher que conhece as coisas como realmente são e que apenas tenta levar a vida do seu próprio jeito – o que pode ser muito perigoso nos dias de hoje.
“sim,sim.” eu respondi.
gosto das tolices que as pessoas escrevem.
gosto de escrever tolices.
“é uma poesia que meu filho escreveu.”
“certo!” eu respondi desconfiando do fato dela ter um filho.
ela ajeitou o cabelo azul por trás das orelhas.
ela sorria.
soltei uma das alças da mochila e a trouxe para frente do corpo. abri um zíper e tirei minha carteira. “toda vez que nos encontramos você me chama de moço bonito” eu comecei enquanto buscava umas moedas, “isso é só marketing, ou você realmente me acha bonito?” e sorri.
ela sorria. mas dessa vez seu sorriso parecia carregar algo mais – era um fim de tarde de um fim de ano.
“você é realmente bonito.” ela afirmou me entregando o papel com a poesia.
o vento teimava em mexer o seu cabelo azul. ela o ajeitou.
eu entreguei as moedas.
“então prove!”
“humm!” ela suspirou e me beijou o rosto.
me olhou com seus olhos castanhos.
depois ela se foi.
eu fiquei com um pedaço de papel na mão.
ela ficou com um sorriso no rosto e um cabelo azul numa tarde azul.
depois, li o poema. um tal de Guilherme que assinava a poesia parecia estar muito puto, pois tinha descoberto que o dinheiro destrói a mente e alma dos homens.
e eu pensei no que ele diria quando descobrisse que sua mãe saía por aí, parando alguns caras na rua e trocando sua poesia por dinheiro…
E.Nivek