Por Cultura Plural
Como uma cidade de porte médio, Ponta Grossa apresenta potencial não só no âmbito econômico, mas também cultural. A cada ano, a Princesa dos Campos sedia festivais musicais, literários e cênicos, além de eventos que acontecem ao longo do ano e proporcionam à população um contato direto com a cultura local, regional e nacional.
Com a realização, há 42 anos, do Festival Nacional de Teatro (FENATA), promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, as produções cênicas ganham maior evidência. Hoje, na cidade, são quatro cursos de teatro: Centro de Estudos Integrado, Casa de Artes Helena Kolody, Escola de Atores Cia Ele Vive e o Núcleo de Dramaturgia (SESI). Este último é gratuito e conta com apoio da Fundação Municipal de Cultura.
De acordo com o assessor de comunicação da Fundação Municipal de Cultura de Ponta Grossa, Eduardo Godoy, neste ano a instituição está oferecendo oficinas gratuitas na Estação Saudade, no Jardim Santa Mônica, no Sabará e no Jardim Paraíso, como uma forma de valorizar os jovens e oferecer oportunidades de contato com a arte e a cultura. “Estas ações fazem parte de um Plano de Descentralização da Cultura que a Fundação está levando muito a sério, promovendo, além de ações pontuais, formação em vários segmentos nos bairros da cidade, tudo de graça”.
Os cursos dão origem a grupos como Letras Cênicas, Asterisco Cênico, Grupo Teatral Unidev, Grupo Par Seria, da Casa de Artes Helena Kolody, do CECI, Grupo Ação Teatro, Cia de Teatro Ele Vive, Neusa Soares, A Corte Seco e o Grupo Epíteto. Como forma de incentivo às produções desses grupos, a Fundação Municipal de Cultura promove o Prêmio para Circulação e Realização de Temporada de Espetáculo Teatral e o Prêmio para Montagem Teatral.
“São uma forma de incentivar a produção teatral de grupos já consolidados. São realizados por meio de editais, em que são avaliados vários aspectos, como qualidade técnica, experiência, proposta, relevância social, entre outros”, explica Godoy. Para o coordenador da Casa de Artes Helena Kolody, Emerson Rechenberg, é uma iniciativa válida, pois prevê um número mínimo de apresentações em uma cidade onde a produção local ainda é esparsa.
Incentivos fiscais
Além das ações promovidas pela gestão municipal, Ponta Grossa também é contemplada pela Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, do governo federal. De acordo com o assessor de comunicação da Fundação, existem vários projetos aprovados pela lei e cerca de R$ 2 milhões de reais destinados às atividades de 2014 e 2015.
Hoje, na cidade, existe também a Lei Bepe funcionando paralelamente à Lei Rouanet, que cede até 5% de incentivos fiscais a empresas que financiem projetos culturais ponta-grossenses. “A grande batalha é sempre para que os empresários se conscientizem que podem colaborar com a cultura na cidade apenas repassando o que seria pago de Imposto de Renda para estes projetos”, afirma Godoy.
Segundo Emerson Rechenberg, essas leis levantam uma questão emblemática, por serem leis de renúncia e não de incentivo. “Sendo assim, pouco importa a qualidade do produto e sim a quantidade de público que esse produto levará ao evento”. O coordenador da Casa de Artes ainda afirma que, hoje, a busca por incentivo está mais ligada à possibilidade de grupos autônomos viabilizarem seus trabalhos sem a necessidade de apoio institucional. “Assim, ao Poder Público, em qualquer instância, cabe apenas facilitar o acesso aos aparelhos culturais, e se possível, não atrapalhar a produção”, acrescenta Rechenberg.
Dos palcos ao público
De acordo com a diretora do Centro de Estudos Cênicos Integrado (CECI), Heloisa Frehse Pereira, o CECI é a primeira escola de teatro particular dos Campos Gerais, e é uma empresa que se mantém com os próprios recursos. “Não é uma empresa que visa lucro, é uma empresa que visa a arte”. Porém, ela garante que investimentos públicos seguidos de comprometimento são bem vindos. Segundo Heloisa, a escola surgiu de uma necessidade própria de contribuir com o teatro em Ponta Grossa. Hoje, ela tem 60 alunos e realiza apresentações como a Mostra Ceci em Cena.
Para a aluna da Casa de Artes, Karina Chichanoski, ainda são poucos os incentivos à produção e apresentação teatral na cidade. “Hoje na cidade devemos ter no mínimo cinco apresentações por ai. Espaços? Bem raros”, observa Karina. Outro problema apontado é o valor de espaços para apresentações.
Segundo a enfermeira Sandra Leite, que costuma frequentar peças teatrais sempre que pode, existe um bom número de produções, mas ainda deveria haver mais. Sandra classifica as peças teatrais como “muito boas” e acredita que existe incentivo a esse tipo de arte na cidade.
Atualmente, em Ponta Grossa, existem alguns espaços de expressão artística, como os teatros (Cine-Teatro Ópera, Marista e Pax), além do Centro de Cultura e outros espaços alternativos. Rechenberg acredita que, para os grupos, é o suficiente para abrigar produções locais e eventos maiores e observa que na maior parte do tempo esses espaços ficam subutilizados. “Quanto ao Fenata, com o porte da renúncia fiscal e a distribuição maciça de ingressos, tem-se a ocupação do espaço e estrutura necessária para os grupos que dele participam”, declara o artista.
Anualmente, Ponta Grossa torna-se a sede do Festival Nacional de Teatro, que reúne produções de todas as regiões do Brasil. Para o assessor da Fundação Municipal de Cultura, o evento tem importância para a cidade em mais de um setor, como social e econômico. “E na parte cultural, é considerado um dos maiores eventos do ano, com uma ampla oferta de espetáculos nas mais diversas linguagens, como infantil, adulto, de rua e de bonecos, debatendo importantes temas”, afirma Godoy.
Entretanto, para o coordenador da Casa de Artes Helena Kolody, Emerson Rechenberg, as pessoas creditam maior valor ao festival por ser um evento social. “Na vida cultural não vejo muita influência, pois o nível cai a cada ano. O mote tem sido apenas numérico”, declara Rechenberg.
“Acho que pela proporção do festival, a influência que tem na cidade poderia ser muito maior”, afirma Karina. A aluna de dramaturgia vê a necessidade da implantação de outras políticas que contemplem essa arte.
Quanto ao nível – tanto quantitativo quanto qualitativo – das produções teatrais em Ponta Grossa, Eduardo Godoy acredita que existe um longo caminho a ser percorrido, mas os avanços são visíveis a partir das ações promovidas em prol dessa arte na cidade. Já Rechenberg acredita que os públicos são formados a partir da presença constante das peças teatrais como opção na agenda das pessoas. “Já quanto à qualidade, acho que estamos numa fase embrionária. Teatro de qualidade demanda tempo, estudo, dedicação, recursos de produção, público e paciência. Imagino que estão sendo dados os primeiros passos, mas ainda há muito o que fazer”, afirma.
Reportagem de Giovana Kai