Por Cultura Plural
Produção realizada para o Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Fama, dinheiro, roupas de grife e carros importados são elementos presentes no imaginário de pessoas que ingressam no universo da música. Impulsionados por videoclipes hollywoodianos e shows que se assemelham a produções da broadway, qualquer um que está inserido no meio almeja uma fatia desse bolo. No entanto, uma ínfima parcela pode se dar ao luxo de viver exclusivamente do próprio som. Os ‘músicos de bares’, frequentes nas noites afora, tendem a ter uma rotina bastante complexa e quase sempre tem de conciliar a relação vida social, trabalho fixo e família.
Como bem observou um dos grandes representantes da música popular brasileira, Milton Nascimento, foi em um dos bailes da vida ou em um bar que muita gente pôs o pé na profissão. E em Ponta Grossa a situação não é diferente. O que se vê são diversos grupos que buscam mostrar o trabalho e se inserir no mercado.
“Primeiramente é preciso ter responsabilidade com o público e com quem paga seu salário”, afirma Raynner Malaquias, que visando o futuro também estuda Odontologia e está no penúltimo período. O músico – com mais de dez anos de estrada e passagens por diversas cidades do sul e sudeste do país – conta que para se manter no ramo é preciso sempre renovar, mas sem fugir do estilo e propósito inicial.
Já João de Abreu, conhecido como Joãozinho, que toca seis vezes por semana na noite ponta-grossensse, começou a fazer a faculdade para ter mais segurança, mas não mudou o ramo, já que cursa Licenciatura em Música. “Além de buscar estabilidade, busco um aprimoramento dos meus conhecimentos, já que muita coisa sabia na prática e não na teoria”.
A batalha para conseguir um lugar para se apresentar é pesada. Às vezes, é necessário passar noites em claro e tocar de graça para atrair público para mostrar o potencial existente. Contudo, após conseguir tal feito, as dificuldades são outras. O trompetista Felipe Stadler é pai de dois filhos e trabalha durante o dia, em outra atividade, para dar as melhores condições à família. “Já fiquei semanas fora de casa e não é nada fácil. É claro que no começo as coisas são legais, mas uma hora bate a saudade das crianças e da comida de casa”, conta.
Vale ressaltar também que a mídia adquire um papel importante na divulgação da produção musical, pois geralmente a verba não é suficiente para fazer inserções em rádios, TV’s ou mesmo em impressos, o que acaba fazendo com que o músico ou banda apresente seu conteúdo em uma mídia híbrida e barata, no caso, a internet. Porém, com a evolução das redes sociais e o grande acesso do público, a internet acabou abrindo um novo espaço de trabalho, possibilitando novas oportunidades de inserções e exposições do conteúdo produzido.
“Posso dizer que mais de 90% do material que produzo e divulgo é feito para a internet. Aquela coisa de gravar cd e gastar uma grana que a gente não tem acabou; até porque com 200 cópias ninguém fica famoso”, brinca João de Abreu, conhecido como Joãozinho, que vive exclusivamente da música e busca na MPB e no rock uma forma de expressão.
Locais de trabalho
Quem frequenta os bares e casas de show da cidade sabe que os problemas são muitos e vão de palcos minúsculos e abafados a equipamentos de som (mesas, caixas de som, monitores, microfones e cabos) de péssima qualidade, passando por deficiências estruturais, acústicas e do próprio layout das casas (pistas de dança e mesas mal posicionadas, por exemplo), além de falhas na segurança (tanto para evitar brigas como para impedir que as pessoas deixem copos e garrafas sobre o palco ou os amplificadores).
“Se você quer fazer um som legal é necessário investir nos instrumentos e não confiar totalmente no que dizem os contratantes. Já chegou ao cúmulo de prometerem um local com tudo e na hora o que vimos foi um palco vazio e que mal cabia a bateria”, critica o guitarrista William Santos.
A impressão que se tem é que as condições de trabalho dos músicos não têm importância para os proprietários das casas que oferecem a música como a principal atração. Eles não pensam duas vezes antes de investir em reformas para ampliar a capacidade (e o faturamento), ou dar mais conforto ao público – mas os profissionais que atraem esse público não merecem a mesma atenção.
Esta é a avaliação de Oswaldo Antunes, que atualmente é proprietário de um restaurante, mas gerenciou uma casa noturna no início dos anos 2000 e relata a árdua tarefa vivida pelos músicos. “A gente não precisa ser hipócrita, basta dar um giro nos lugares da cidade, a preocupação está em ganhar dinheiro e não dar conforto e condições pra quem está na batalha”.
E os eruditos, onde ficam?
Pesquisa realizada pela agência Bundesverband Musikindustrie mostra que o mercado alemão de música clássica apresentou, pela primeira vez depois de três anos, crescimento de 6,4% nas vendas, totalizando 90 milhões de euros. Até então, a terra que foi berço de Mozart e Schubert estava retraída: entre 2008 e 2012, as vendas haviam caído de 108 para 85 milhões de euros.
No Brasil, país do samba e da bossa nova, a área apresenta um déficit de produção de discos, visto que o segmento de música erudita representa apenas 0,5% do mercado nacional, de acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD). No entanto, para o tubista suíço erradicado no Brasil, Pierre-Yves de Cerjat, os dados refletem as características culturais de cada país, e aqui, em terras tupiniquins, a vida de um ‘músico clássico’ pode ser tranquila financeiramente.
“Se você realmente for competente – devido ao ambiente ser mais restrito – as oportunidades aparecem e não dá pra reclamar nem um pouco do cachê”, afirma Cerjat, que atualmente toca na Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa, mas já participou de grupos em Curitiba e São Paulo.