Foto: Lucas JolondekProjeto violência explora a sociedade e traz questionamentos sobre o corpo humano no 53° FENATA
Por Lucas Jolondek
Iniciando a programação do Às dez em cena do 53° Fenata, a peça “Monstro”, da Companhia Setra, de Curitiba, retrata um corpo feminino, criado em laboratório, e que reflete sobre os padrões de beleza femininos e do corpo humano. A peça acompanha Flavia Massali, como parte do intitulado projeto violência, que extrai as vísceras da sociedade enquanto atua completamente nua no palco. Com o preço da entrada do Às dez em cena sendo R$ 30,00, o espetáculo possui cenas de nudez e é proibido para menores de idade.

Monstro traz as vísceras da sociedade, a maneira como a comunicação visual e social dialoga com a violência humana. No espetáculo, que reinaugura o palco C do Cine Teatro Ópera, Flavia se violenta de várias formas ao longo da narrativa, seja de maneira estética ou socialmente construída. Para uma mulher, a sociedade é muito mais violenta, trazendo padrões estéticos e a violência que agride os direitos humanos. No decorrer da peça, a personagem questiona quem são os monstros, se não a plateia, que vendo Flavia implorar por ajuda, mesmo assim não se move, pedindo para levantarem suas câmeras e filmarem a bizarrice acontecendo, sem se importarem com seu bem-estar.
O espetáculo é a segunda parte de um projeto que engloba três produções, Projeto Violência e Família Original 3.0. O Projeto Violência é um produto audiovisual, em que o bailarino Airton Rodrigues dança pela degradação da vida, unindo a perspectiva de sua vida, abrindo mão de tudo. Na verdade, o personagem não dança, mas sim se violenta. A peça Monstro vem em seguida e por último, o trabalho intitulado Família Original 3.0. Segundo o dirtetor Eduardo Ramos, “Família Original 3.0 acompanha a família dos agentes violência, onde nasceram duas filhas em laboratório, transformando em ainda mais brutal a construção dessa família em laboratório”. As produções começam com o homem, que assume o papel de pai desta família violenta, e segue com a mulher, a mãe, e após a construção familiar das filhas.

Eduardo Ramos aborda o processo criativo na construção da peça, tendo apenas uma personagem. O fundador da APE da 13 espaço de criação, explica como idealizou a estrutura da peça. “A gente trouxe uma proposta de criar um laboratório e criar o monstro, quisemos mostrar como esse corpo é condicionado e observado pela platéia”. Ramos também conta que o espetáculo já circulou algumas vezes, mas esta foi a primeira vez que receberam uma ótima estrutura para o espetáculo.
Flavia Massali, atriz que interpreta a única personagem, iniciou no ramo artístico em 2013, no meio da dança, mas a partir de 2019 começou a abrir seu “leque cultural” com a produção de poemas e iniciando a carreira no teatro. Ela relata como foi a construção da personagem e as dificuldades em interpretá-lá: “pensamos que o meu corpo tem a se monstrificar. Eu aprendi muito fazendo o personagem e criando algum tipo de narrativa para o nascimento deste monstro, com a construção biológica, social e no fim algum tipo de morte”, conta Massali. Questionada sobre sua relação com a personagem, Flávia relata, “Este papel não é libertador. Ele não tem um final feliz, virei uma agente da empresa Projeto Violência. Ou seja, eu sou mais violenta do que eu poderia ser”. Ela ressalta: “Como artista sinto orgulho e realização de participar deste trabalho, mas como mulher e ser humano, não existe nenhum tipo de prazer para além do que o público observa”.


